quinta-feira, 25 de março de 2010
COM QUE CARA QUE EU VOU?
O Brasil revela, cada vez mais, a sua “cara”, assumindo ares de “popular” em tudo o que se diz e produz.
É a “cara do povo” que conduz a Nação por caminhos incertos. Joga-se no lixo da história tudo o que diz respeito aos valores culturais, justamente um dos pilares que sustentam a base de uma sociedade.
Aceita-se as coisas do jeito que estão, alegando que essa é a cultura de nosso povo. Nada mais nos envergonha, a linguagem desbocada e vulgar agora é avaliada como algo socialmente constituído dentro de determinadas circunstâncias, para que possamos compreender conteúdos da fala e da escrita.
Isso impressiona, não é mesmo?
Quanta sabedoria!
Ou melhor, quanta baboseira!
Povos mais inflexíveis e briguentos conseguiram mudar de mentalidade e evoluir nas relações sociais com um profundo investimento em educação.
Enquanto isso, consideramos a qualidade como um pecado, a qualidade dos produtos e dos serviços prestados à população, a qualidade na educação de nossos filhos, enfim, a qualidade de vida do ser humano que trabalha a metade do ano para pagar impostos e se contenta em receber de volta muito pouco além de um tapinha nas costas.
“Qualidade” é coisa da “maldita elite”.
Para o povo tudo tem que ser “popular”, música popular, farmácia popular, loja popular, e assim por diante, tudo com muito barulho, bagunça, desorganização e pouco cuidado com o asseio do ambiente, basta observar a quantidade de papel picado pelo chão dos estabelecimentos “populares”.
Afinal, o que importa é a economia, o dinheiro. Como se a facilidade para o consumo e o endividamento fossem o suficiente para a felicidade geral da Nação.
Peço licença para questionar essa opção das elites e que está contaminando o país inteiro.
Ainda encontramos trabalhadores honestos, pessoas simples e anônimas, que se indignam com a postura medíocre de nossas autoridade e com a glamourização da ignorância.
Mesmo quem se encontra nessas condições, a maioria por falta de oportunidade, tem a expectativa de melhorar, de aprender e avançar. O mau exemplo de quem estimula a estagnação e até o retrocesso não corresponde aos anseios de um povo que tem potencialidades que precisam ser desenvolvidas e bem aproveitadas, para o bem do país e para a realização pessoal de cada cidadão.
O culto à mediocridade, na verdade, está sendo imposto pela elite dominante e, infelizmente, muita genta vai na onda. A pior decepção é encontrar uma legião de fanáticos em universidades, como alunos e professores, em profissões liberais, entre os doutores, pessoas bem sucedidas, empresários, lideranças importantes que exercem grande influência na formação da opinião de pessoas humildes e mal informadas.
Cito alguns trechos de matéria publicada no jornal “A Tribuna” de Santos, O Triunfo da Estupidez, de Flávio Viegas Amoreira, que me inspirou a desenvolver esta análise.
“Cresci lendo Adorno e Ortega y Gasset: não imaginava que o processo de idiotização fosse tão avassalador e contaminasse de modo tão ordinário a burguesia que ainda resistia à vulgaridade.....
Instituto carioca respeitado revela raio-x do País do rebolation, ........
Gilberto Dimenstein num precioso artigo, “Elite despreparada”, antecipa outro diagnóstico sobre “exemplos e referências de credibilidade” em suas vidas de “indigentes cerebrais”, que citam como ícones...............(celebridades).
Em A Rebelião das Massas, Ortega y Gasset antecipa essa “cretinização” e “acafejestamento” em detrimento da profundidade, do interesse elevado e do cultivo por valores não tangidos pela moral desqualificada dos modismos e rebanho fashion.
Nenhuma amargura, é até bom que a burrice triunfe, para que os náufragos lancem pontes e formem ilhas ou oásis de saber e sensibilidade mais seletos.
No mundo virtual ou no convívio entre outros raros lobos da estepe, impõe-se um elitismo asséptico diante do tsunami de estupidez, futilidade e torpor em nome do prazer rasteiro.
.......o mundo nunca foi tão interessante para quem tem espírito aguçado. Nunca a cultura tão acessível e o público tão distante. Resistamos.”
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