terça-feira, 6 de abril de 2010

Risco fiscal

Eu reconheço que o tema é cansativo para quem não está habituado a acompanhar os números da economia, afinal, recebemos apenas informações básicas, transmitidas pela midia de forma superficial.
Mas a dívida em alta é preocupante e merece atenção:



COLUNA NO GLOBO

As capitalizações em série do BNDES são obviamente um risco fiscal de grandes proporções.
E essa é a terceira operação recente. Já foram feitas duas: uma de R$ 100 bilhões e outra de R$ 80 bilhões.

Fala-se pouco disso no Brasil. O silêncio é por interesse. A maioria das empresas do país, todos os bancos, os bancos de investimento dependem do BNDES para seus negócios. O Tesouro está se endividando para pôr dinheiro no banco, que transfere para as empresas por critérios discutíveis. E com isso está também concentrando renda.

O primeiro critério é a ideia de criar "campeões nacionais". Foi exatamente assim que o contribuinte brasileiro teve que arcar com enormes rombos nos anos 70 de empresas que, alimentadas com dinheiro público, se tornaram dependentes, e depois quebraram.

O segundo critério é o de aumentar a estatização do crédito por razões ideológicas. Os grandes projetos estão todos estatizados na prática porque os consórcios são formados por uma estatal, fundos de pensão de estatal e o banco público.

A ideia agora, informou O GLOBO de ontem, é a de capitalizar o BNDES para ele financiar o PAC.

O "Wall Street Journal" publicou uma reportagem recomendando conter o otimismo em relação ao Brasil. Disse que não somos mais o país da hiperinflação graças às reformas feitas no governo anterior ao Lula. Que as reformas já eram incipientes neste governo e desapareceram depois da descoberta do pré-sal.

O jornal não sabe de toda a má notícia. O pior é a recriação de riscos fiscais que podem abalar a base da estabilidade. Como o dinheiro do banco é subsidiado, o que o Tesouro está fazendo é transferindo R$ 280 bilhões — se for confirmada essa terceira capitalização — para que o banco possa emprestar para as empresas abaixo do custo que o próprio Tesouro se financia. Não há transparência sobre esse custo fiscal, nem sobre os riscos que o banco tem assumido.

O economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, lembra que o Brasil tem precisado de poupança externa para financiar o crescimento. Isso significa que o passo do governo vai na direção contrária, pois aumenta a dívida ao invés de estimular a poupança interna. Salto observa também que continua o descompasso entre as políticas monetária e fiscal. Enquanto o Banco Central é obrigado a subir juros para controlar a inflação, o governo aumenta gastos e contribui para pressionar os preços.

Mais informações: http://oglobo.globo.com/economia/miriam/

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