.A participação democrática nas eleições tem uma significação que ultrapassa o simples ato de sufragar nomes para ocupar cargos administrativos e parlamentares.
Não se pode reduzir um pleito eleitoral em simples corrida vitoriosa, oportunidades de hegemonias partidárias ou mesmo imposição de carismas pessoais na definição dos cenários que vão configurar a comunidade política, que tem na referência ao povo a sua autêntica dimensão e que, na realidade, deve ser a unidade orgânica e organizadora de um verdadeiro povo.
A Doutrina Social da Igreja ressalta que “o povo não é uma multidão amorfa, uma massa inerte a ser manipulada e instrumentalizada, mas, sim, um conjunto de pessoas, cada uma das quais – no próprio lugar e a seu modo – tem a possibilidade de formar a própria opinião a respeito da coisa pública e a liberdade de exprimir a sua sensibilidade política e de fazê-la valer em maneira consoante com o bem comum”.
Portanto, o foco de um processo eleitoral não pode restringir-se às figuras que serão aprovadas por votos, considerando-se, é claro, a moralidade e as condições de cada um no exercício da responsabilidade e missão a que se propõem.
Há uma luz, nascida da compreensão da realidade e dos seus funcionamentos, que deve iluminar o rosto e a vida de candidatos.
Não se pode reduzir, pois, as eleições à corrida eleitoral, à propaganda enquanto mecanismo de convencimento ou às promessas que apaziguam e podem ter força na definição de adesões transformadas em voto.
É inconcebível também estreitar o evento eleitoral - momento educativo da mais alta importância na vida social e política de um povo a afirmações partidárias.
Não se desconhece sua função própria.
Uma nação não pode ser governada simplesmente pela ideologia de um partido, tendo em conta suas fragilidades, as alianças questionáveis e outros aspectos próprios da complexidade do tecido político.
É importante a mobilização de todos os segmentos da sociedade para que as eleições tragam resultados tanto no âmbito de escolhas adequadas dos nomes, quanto no crescimento da consciência social e política, que deve alavancar a cidadania de todos.
Neste âmbito, pode se constatar grandes avanços e abertura de novos horizontes.
A Lei da Ficha Limpa é um desses grandes avanços que apontam na direção de reformas morosas por interesses diversos ou por incapacidade de avanços.
Existe ainda resquícios de dinâmicas, práticas e hábitos que continuam sendo heranças de espúrio coronelismo e de ultrapassados caudilhos que tentam se perpetuar.
As figuras representativas deste modus operandi na sociedade e nas instituições, sejam elas de que tipo for, vão caindo num ridículo que produz o seu ostracismo pouco a pouco.
Contudo, há a tendência de se incorrer no mesmo risco e equívoco do povo de Deus saindo do Egito, conduzido pela lucidez de Moisés, que abre horizontes e aponta caminhos e possibilidades a serem conquistados.
Mas o povo reclama, confessa o desejo de voltar a servir o faraó, fazendo referências às panelas de carnes e às cebolas, embora comidas na condição de escravo.
Existe uma preferência pela condição escravocrata àquela da liberdade, embora pagando um preço.
Os faraós se multiplicam com suas artimanhas aproveitando-se dos fracos na sua saudade de um passado que não volta mais, especialmente na dinâmica da sociedade contemporânea.
Aproveita-se de uma necessidade de incentivo e de benesses que revelam a pequenez na penúria dos dependentes e na tirania de antigos caudilhos e coronéis.
Estes vivem do passado.
É hora de apostar, como Moisés, em um horizonte novo.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Íntegra no site da CNBB
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