Napoleão Bonaparte dizia que a melhor defesa é o ataque. Outro gênio militar, o prussiano Carl von Clausewitz, ensinava que "a guerra é a continuação da política por outros meios".
Em síntese, o que vale para uma, vale para a outra. Nesses termos, faz sentido a reação de Dilma Roussef, de ameaçar ir à Justiça contra José Serra, em decorrência do crime de vazamento de dados sigilosos de quatros tucanos na Receita Federal.
Pretende assim transformar a vítima em réu – e vice versa -, dentro da receita napoleônica. Diz que se sente insultada pelo fato de Serra lhe cobrar explicações. E argumenta que não tem nada com isso.
Será?
Vejamos. Os dados fiscais de Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, foram parar na Folha de S. Paulo, que informou que integravam um dossiê contra José Serra.
O dossiê, segundo se apurou, estava sendo preparado por uma empresa de comunicação, do jornalista Luiz Lanzetta, contratada pelo comitê de Dilma para coordenar sua área de imprensa. Já aí há uma conexão entre crime e campanha. A operação foi abortada por desentendimento entre seus mentores, o que fez com que vazasse.
Dias depois, no Senado, o delegado aposentado da Polícia Federal, Onézimo de Souza, declarou ter sido convidado por Lanzetta para espionar Serra e colaborar na feitura do dossiê, que, segundo disse – e afirmou dispor de provas documentais -, estava em preparo pela “área de inteligência do PT”.
A correlação entre os fatos é óbvia, sobretudo porque há múltiplos antecedentes dessa prática no PT. Basta lembrar o dossiê dos aloprados, da eleição de 2006, que tinha o mesmo Serra como alvo. Há duas semanas, Geraldo Santiago, ex-diretor da Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, declarou à revista Veja que o PT encomendava dossiês contra seus adversários, e que ele próprio já havia participado da elaboração de alguns, lá preparados.
Forneceu detalhes: números, datas, diálogos. Dias depois, outro ex-petista, o sindicalista Wagner Cinchetto, na mesma linha, descreveu um esquema de produção de dossiês contra rivais de Lula nas eleições de 2002. Entre os alvos, estavam aliados de hoje, como Ciro Gomes, Roseana Sarney e Anthony Garotinho.
Esclareceu que o caso Lunus, que pôs fim à candidatura presidencial de Roseana – e de cuja iniciativa Serra foi acusado -, fora na verdade tramado pelo próprio PT, com o conhecimento e assentimento de Lula. Até agora, ninguém veio a público desmenti-lo.
Para não recuar muito, há dias, noticiou-se outro dossiê, desta vez contra o ministro Guido Mantega. O objetivo era forçá-lo a desistir de nomear o vice-presidente do BB, Paulo Caffarelli, para a presidência da Previ. Briga por cargos. Fogo amigo.
O dossiê acusava a filha do ministro, Marina Mantega, de tráfico de influência dentro do Banco do Brasil. O próprio governo identificou sua origem: a ala petista egressa do sindicalismo bancário, que tem na sua liderança o ex-presidente do partido, deputado Ricardo Berzoini. Não há, portanto, despropósito algum na cobrança de Serra.
Quando cobra explicações de Dilma, não lhe está imputando responsabilidade pessoal, mas institucional. O candidato responde pelas ações de sua campanha, sobretudo quando algum contratado seu delinque para influir nos resultados.
A Receita Federal vasculhou, em sequência e num mesmo dia - 8 de outubro de 2009 -, os dados fiscais sigilosos de Eduardo Jorge e de mais três tucanos: o ex-ministro de FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros; o ex-diretor do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira; e de Gregorio Marin Preciado, casado com uma prima de Serra.
Dilma inicialmente sustentou que não havia vínculo evidente entre o vazamento e o PT. Esta semana, porém, com a notícia de que a operação vitimara quatro tucanos, a evidência se impôs. A oposição entrou na Justiça contra o PT. E o PT fez o mesmo, em busca de reduzir o acontecido a um embate eleitoral.
É bem mais: um crime contra a Constituição.
Ruy Fabiano é jornalista
Fonte: blog do Noblat
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