domingo, 1 de agosto de 2010

Grande FHC!

Cara ou coroa?, por Fernando Henrique Cardoso*

Em pouco mais de dois meses escolheremos o próximo presidente.
Tempo mais do que suficiente para um balanço da situação e, sobretudo, para assumirmos a responsabilidade pela escolha que faremos.

Mas o que realmente se conhece?
Que nos últimos 20 anos melhorou a vida das pessoas no Brasil, com a abertura da economia, com a estabilidade da moeda trazida pelo Plano Real, com o fim dos monopólios estatais e com as políticas de distribuição de renda simbolizadas pelas bolsas.

Por enquanto o que chama a atenção é a disposição de bem menos da metade do eleitorado em votar no governo, enquanto a votação oposicionista se mantém consistente próxima da metade.

Essa obstinação, a despeito da pressão governamental, impressiona mais do que o fato de Lula ter transferido para sua candidata 35% a 40% dos votos.
Assim como impressiona que o apoio aos candidatos não esteja dividido por classes de renda, mas por regiões: pobres do Sul e do Sudeste tendem a votar mais em Serra, assim como ricos do Norte e do Nordeste, em Dilma.

O empate, depois de praticamente dois anos de campanha oficial em favor da candidata governista, tem sabor de vitória para a oposição.
É como se a lábia presidencial tivesse alcançado um teto.
De agora para frente, a voz deverá ser a de quem o país nunca ouviu, a da candidata.
Pode surpreender?
Sempre é possível.
Mas pelos balbucios escutados falta muito para convencer: falta história nacional, falta clareza nas posições; dá a impressão de que a palavra saiu de um manequim que não tem opiniões fortes sobre os temas e diz, meio desajeitadamente, o que os auditórios querem ouvir.

Não obstante, muitos comentaristas, como recentemente um punhado de brazilianistas, quando perguntados sobre as diferenças entre as duas candidaturas, pensam que há mais convergências do que discrepâncias entre os candidatos.
Será?
As comparações feitas, fundadas ou não, apontam mais para o lado psicológico.
O que está em jogo, entretanto, é muito mais do que a diferença ou semelhança de personalidades.
O candidato da oposição, este sim, traz consigo a marca de origem: ajudou a construir a estabilidade, a melhorar as políticas sociais e a promover o progresso econômico.

Não nos iludamos.
O voto decidirá entre dois modelos de sociedade.
Um mais centralizador e burocrático, outro mais competitivo e meritocrático.

Mas estamos mais perto do que parece de concretizar o que vem sendo esboçado neste segundo mandato petista: mais controle do estado pelo partido, mais burocratização e corporativismo na economia, mais apostas em controles não democráticos, além de maior aproximação com governos autoritários, revestidos de retórica popular.

A escolha a ser feita é, portanto, decisiva.
Como tudo indica, o teatro eleitoral se está organizando para esconder o que verdadeiramente está em discussão.
Há muita gente nas elites aceitando confortavelmente a tese de que tanto dá como tanto deu.
Dê cara ou dê coroa, sempre haverá “um cara” para desapertar os sapatos.
Ledo engano.
Há diferenças essenciais entre as duas candidaturas polares.
Feitas as apostas e jogado o jogo, será tarde para choramingar, “ah, eu nunca imaginei isso”.
Melhor que cada um trate de aprofundar as razões e consequências de seu voto e escolha um ou outro lado.
Há argumentos para defender qualquer dos dois.
Mas que não são a mesma coisa, não são.
E não porque num governo haverá fartura e noutro escassez, para pobres ou ricos.
E sim porque num haverá mais transparência e liberdade que noutro.
Menos controle policialesco, menos ingerência de forças partidário-sindicais.
E menos corrupção, que mais do que um propósito é uma consequência.

*Ex-presidente da República

Leia o artigo na íntegra.

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