domingo, 12 de setembro de 2010

Carta aos que creem em algo além do dinheiro

Carta Pastoral Sobre Ação revolucionária e o dever dos católicos
Dom Geraldo de Proença Sigaud

1. Socialismo e comunismo

O socialismo ensina a mesma doutrina marxista que o comunismo.
Tem o mesmo objetivo, a Revolução, e quer a mesma organização econômica da sociedade.
É materialista, rejeita a Religião, a moral, o direito, Deus, a Igreja, os direitos da família, do indivíduo.
Quer que todos os meios de produção estejam nas mãos do Estado, e igualmente toda a educação, todos os transportes, as finanças, e que o Estado seja o soberano senhor de todas as forças da nação.
Deseja a supressão da diferença entre as classes sociais.
Também para o socialismo, a pessoa existe para o Estado, não o Estado para a pessoa (cf. Leão XIII, Encíclica Rerum Novarum).

A diferença que há entre os socialistas e os comunistas é uma diferença de método.

Os comunistas desejam a implantação imediata da ditadura do proletariado para realizar a Revolução.
Os socialistas recorrem a meios "legais" para obter o mesmo objetivo.
Recorrem às eleições, às greves legais, às agitações sem derramamento de sangue, para conseguir leis de nacionalização, de ensino laico.
O socialismo é uma rampa pela qual as nações vão resvalando para o comunismo quase sem perceberem.

2. Socialismo e seus matizes
A vantagem táctica do socialismo, para os que dirigem a seita comunista, é que o socialismo pode tomar cores mais suaves.
O comunismo é vermelho-sangue.
O socialismo pode ir do rubro ao cor de rosa.
O comunismo tem dificuldade de se fazer passar por cristão.
O socialismo arranja modos de se dizer cristão, e assim realizar a Revolução paulatinamente e por etapas.

3. Socialismo cristão
Os fatores da Revolução realizaram esta proeza de enfeitarem o socialismo com o rótulo de cristão.
Com um semblante comovido, tais socialistas cristãos condenam o capitalismo.
E com comoção dizem que no comunismo há muita coisa boa.
O seu ódio à América do Norte é violento.

Consideram o capital uma abominação quando nas mãos daquele que o amealhou com o seu suor, mas o acham admirável quando nas mãos do Estado.
Mas confessam se e comungam; dizem-se católicos progressistas.

Realmente, Deus estabeleceu uma ordem natural, que não é lícito ao homem violar, e a esta ordem pertencem dois pontos que todo o socialismo viola.
São os seguintes:
a) O Estado não existe para absorver ou substituir os indivíduos, as famílias e as associações, mas para realizar as tarefas que estes elementos não podem realizar por si mesmos.

b) O indivíduo, as famílias, as associações têm direito de possuir bens de raiz, bens móveis e bens produtivos.
O Estado não pode açambarcar estes bens para si.
Os homens têm o direito e o dever de proverem às suas necessidades, e o Estado não pode arvorar-se em Providência e suprimir este direito ou substituir se a este dever.

4. A Igreja primitiva foi comunista?
As ordens religiosas são comunistas?
Amados Filhos, provavelmente já tereis ouvido ou lido afirmarem que a Igreja primitiva foi comunista e que as Ordens Religiosas o são.

Depois do que dissemos a respeito do marxismo, compreendereis que somente um ignorante ou uma pessoa de má fé pode afirmar uma monstruosidade tal.
Vede bem que o essencial do comunismo é a negação do direito de propriedade.

Ora, examinemos sob este aspecto a Igreja primitiva. Levadas da vontade de seguir de perto o exemplo do Divino Mestre e realizar os conselhos evangélicos, várias famílias cristãs de Jerusalém resolveram viver no voto de pobreza. Para isto venderam tudo o que tinham e entregaram o dinheiro aos Apóstolos para que com ele fosse mantida a comunidade. Notai bem: os indivíduos desta comunidade renunciavam aos seus bens porque queriam. Quem não quisesse viver na pobreza, não precisava.

A Igreja permitia que os que quisessem viver sem possuir nada pessoalmente, o fizessem.
Mas, de um lado, isto era livre; de outro, o imóvel ou o dinheiro apurado passava a ser propriedade da comunidade.
Ficava pois de pé o direito de propriedade da comunidade; não era negado nem transferido ao Estado.

Para desiludir os comunistas utópicos, devemos dizer que a primeira tentativa de realizar o ideal da pobreza não foi bem sucedida.
Consumidos os capitais apurados na venda dos imóveis, criou-se em Jerusalém uma situação difícil, e foi preciso as outras comunidades cristãs enviarem periodicamente esmolas para Jerusalém a fim de sustentarem os irmãos que tinham renunciado aos seus bens.


Carta original aqui.

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