“Quero crer que certas épocas são doentes mentais.
Por exemplo: a nossa”.
Assim começa a crônica publicada por Nelson Rodrigues em 5 de abril de 1968 no jornal O Globo, com o título “Os dráculas”.
Há 42 anos, o grande cronista ironizou uma trêfega ideia de dom Helder Câmara: modernizar a missa católica com a substituição da música sacra por sons mais brasileiros.
“Parece ao arcebispo de Olinda e Recife que se pode louvar a Deus, igualmente ou até com vantagens, com a cuíca, o pandeiro, o reco-reco e o tamborim”.
Certas épocas são doentes mentais.
Por exemplo: a nossa.
Assim pode começar qualquer texto sobre este assombroso início de primavera.
Os dráculas de 2010 são bem menos inofensivos que os de Nelson Rodrigues.
Querem transformar a imprensa no Grande Satã para louvar a roubalheira, a corrupção, o liberticídio, a impunidade institucionalizada.
Não há nada de espantoso na relação dos organizadores da manifestação que prega o assassinato da verdade.
São pelegos arrendados, universitários em idade de aposentadoria, desocupados sem terra e sem cérebro e outras nulidades.
O que assombra é o local do evento: as tropas do primitivismo vão declarar guerra à liberdade de imprensa no sindicato dos jornalistas de São Paulo.
A desoladora indigência intelectual dos dirigentes permite uma segunda suspeita.
Como jamais conseguirão assinar uma reportagem em jornais ou revistas que obedeçam a critérios profissionais, aí estaria uma chance de verem seus nomes impressos em publicações sérias.
Mas fico com a primeira hipótese.
Eles não sabem o que fazem.
Como todos os que contribuem para deixar nossa época com cara de doente mental.
Coluna do jornalista Augusto Nunes.
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