quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Volta a manipulação do ‘golpismo’

Deu em o globo
(Editorial)

O PT faz o que a lei permite ao convocar para amanhã, em São Paulo, um ato contra o “golpismo da mídia”, ao qual haviam aderido centrais sindicais, CUT à frente, a União Nacional dos Estudantes (UNE) e os partidos aliados PCdoB, PSB e PDT.

Se não contraria qualquer dispositivo legal, a iniciativa do PT, de evidente intuito eleitoreiro, atropela os fatos, não passa de repeteco do truque manipulador usado desde o estouro do escândalo do mensalão, em 2005.

Ali começou, com tinturas acadêmicas, fermentada por intelectuais petistas, a tese do “golpismo” da imprensa independente, usada toda vez que, por dever profissional e ético, ela noticia fatos objetivos que porventura contrariem o projeto de poder lulopetista.

É desconhecer a função do jornalismo profissional imaginar que o caso de Erenice e de sua grande família não deveria ter destaque no noticiário, em nome de um equivocado tratamento equânime dos candidatos.

Mais uma vez a militância desengaveta a ideia de “golpismo” como forma de jogar areia nos olhos da sociedade, para esconder evidências difíceis de disfarçar.
Uma delas é que, se tudo não passa de maquinações da imprensa, por que exonerar a confiável, fiel Erenice e os demais funcionários?

Também é preciso muito contorcionismo para dissimular a condição de obedientes correias de transmissão governista das centrais sindicais e UNE, cuja adesão tem rendido nestes quase oito anos de lulismo generosos repasses de dinheiro do contribuinte.

A encenação de amanhã é apenas mais uma prova de como o governo Lula, com o manejo de recursos públicos — verbas e vagas — , cooptou o sindicalismo, partidos e organizações outrora aguerridas.

E com isso a vida política brasileira foi amesquinhada, passou a ser um jogo de cartas marcadas, onde proliferam o fisiologismo, clientelismo e o patrimonialismo — os três “ismos” que resumem um cenário desanimador, no qual o Brasil demonstra ter dificuldades de escapar da sina nacional-populista que voltou a rondar a América Latina.

O “golpismo” é mais um efeito especial, um adereço de mão neste enredo de fins autoritários, com slogans em prol da democracia, mas cujo objetivo, ao investir contra independência da imprensa, é o oposto.

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