Na Globo, Dilma se mostrou ao público quase como é: uma invenção de Lula que quase tem idéias mais ou menos claras sobre quase tudo
O formato escolhido pela Globo Dilma não tinha de responder para Serra; Serra não tinha de responder para Dilma.
Ambos se deparavam com eleitores de verdade, com quem eram obrigados a dialogar.
Fugir da questão para falar o que lhes desse na telha, a exemplo do que se viu nos outros encontros, seria desastroso.
E foi aí que Dilma se deu mal.
A frieza do encontro, onde a troca de acusações acabaria soando como indesculpável indelicadeza, foi pior para Dilma.
Recorrer à tática de elencar as conquistas do governo Lula, como ela até ensaiou fazer, mais exporia a sua fragilidade do que evidenciaria competência.
Dilma gaguejou muito, demonstrou insegurança e não conseguiu passar aquilo que seu programa tanto vende: a imagem da pessoa segura e competente.
A petista fez um intenso trabalho de “media training”.
Mas foi treinada para brigar, não para responder com serenidade.
De fato, há uma coisa curiosa, que se revelou neste debate também: Serra sempre foi muito melhor do que o seu pouco mais que sofrível programa no horário eleitoral; e Dilma sempre foi muito pior.
Isso nos diz duas coisas: o melhor candidato teve a pior propaganda.
E vice-versa.
Ninguém deu qualquer resposta espantosa ou inusitada.
A diferença fundamental entre ambos foi de postura, de clareza, de segurança.
Ele esteve mais “presidencial”, com fala mais segura e fluente, idéias mais claras, raciocínio mais inteiro.
Ontem, sem poder esbravejar, sem poder lançar acusações ao vento, sem poder satanizar o governo FHC, Dilma se mostrou ao público quase como é: uma invenção de Lula que quase tem idéias mais ou menos claras sobre quase tudo.
Se existem indecisos de verdade e na hipótese de que o sentido das palavras tenha alguma relevância, o contraste foi favorável ao tucano.
Por Reinaldo Azevedo
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