sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Entre a obrigação e a devoção

Artigo de Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa - filha de Adoniran Barbosa

Sou grata ao presidente Fernando Henrique Cardoso por ele ter sabido escolher um time de primeira linha para dar ao Brasil o que nunca tivemos: o real, enfim uma moeda.

Acabar com a inflação indecente e cruel de tantos anos foi, depois das leis sociais de Getúlio Vargas, o melhor que nos aconteceu.

Sou grata a ele por ter escolhido um excelente ministério, formado por pessoas de qualidade.
Sou grata a ele pelos celulares e telefones que hoje são arroz de festa na casa dos brasileiros.
Sou grata a ele pela demonstração que deu ao passar a faixa ao Lula e pelo respeito ao processo democrático, coisa ainda rara entre nós.
Pena que o PSDB não lhe tenha sido grato.

O presidente Lula, por sua vez, acertou ao manter a política econômica do governo anterior.
Foi bem sucedido ao adotar os programas sociais que encontrou e vitaminá-los.
Mas, e as outras promessas?
O tal país do futuro?
Cadê?

Em seu governo camadas inteiras da sociedade brasileira, antes excluídas do mercado consumidor, passaram a ter acesso a bens de consumo como equipamentos eletrônicos, TVs de alta tecnologia, carros, viagens, etc.
Através da concessão de linhas de crédito e de programas sociais que ele só fez ampliar, mas não controlou, o governo Lula criou também uma ilusão coletiva de falsa prosperidade.

Com isso, a nova classe média, a quem falta o principal, educação, passou a acreditar que ascendeu socialmente.
A casa pode não ter esgoto, a rua estar um caco, a escola não ensinar, o hospital, quando existe, não ter médicos, “mas eu posso entrar nas Casas Trololó e comprar uma TV de 42 polegadas e por isso amo o Lula!”...

O mais grave é que a nenhuma dessas pessoas, nessas condições, ocorre que, de uma maneira geral, sem saneamento básico, saúde e educação, sua vida não melhorou de forma substantiva.

A ninguém parece ocorrer, também, que um dia a conta disso tudo vai chegar.
A verdadeira herança maldita que o Brasil vai receber é essa: o simulacro de prosperidade, sem lastro em um verdadeiro progresso.

Acresce que outro mal maior nos sucedeu: o presidente Lula está convencido que fez o Brasil.
Ele se acha a oitava maravilha do mundo, acima do bem e do mal e portanto no direito de nos impingir o que quer.
O país é dele e ele nomeia quem quer para tomar conta de seu feudo por breves instantes.

“Eu, ao eleger a presidenta Dilma”!
Essa frase diz tudo.
É quase um tratado do que é o Lula.

Não vai ser você, nem o Joaquim, nem o João.
Quem vai eleger a Dilma vai ser ele.
Melhor assim.
Quando a conta chegar, e vai chegar, quem vai pagar é ele.

A foto do fim de festa, na Passarela Adoniran Barbosa, em São Paulo, no comício de domingo passado, mostra bem a nossa situação: os olhares, as poses, os pares a bailar e o povaréu lá em baixo, hipnotizado, encantado.

Primeiro a devoção, depois a obrigação, parece ser o lema dos três governos Lula.
E que Deus proteja Michel Temer, são meus votos.

(Tem muita gente lutando para que essa desgraça não aconteça)

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