Pesquisa eleitoral do Datafolha é convertida em inquérito religioso
O jornalista Reinaldo Azevedo comenta a informação divulgada pelo Coturno.
O Datafolha registrou ontem no TSE uma pesquisa, encomendada pela Folha e pela TV Globo, para o segundo turno da eleição presidencial.
O Datafolha quer saber as coisas de praxe: em quem o sujeito vai votar, em quem votou no primeiro turno, se o apoio de Lula a um candidato — e, agora, de Marina — altera a opinião do eleitor, a avaliação do governo Lula…
Até aí, vá lá, embora haja o que dizer a respeito das questões acima.
Vamos ao que é essencial: o Datafolha resolveu saber o peso que a questão do aborto teve no primeiro turno e terá no segundo.
Huuummm…
É uma curiosidade que nasce de uma tese.
Quero abordar o que considero uma exorbitância e, vênia máxima, talvez um servicinho prestado ao PT — involuntário, é claro.
Uma coisa é tentar saber se a opinião de um candidato sobre o aborto pode ou não interferir na escolha do eleitor; outra, bem diferente, é transformar PESQUISA ELEITORAL NUM VERDADEIRO INQUÉRITO.
P.17-18 - Pergunta a religião do entrevistado (evangélico pentecostal, não-pentecostal, umbanda, candomblé, espírita, católico etc…);
p.19 - A Igreja orientou a NÃO votar em algum candidato? (mostra o cartão com os nomes);
P.20 - A pessoa mudou?;
P.21 - Se mudou, em qual dos candidatos deixou de votar (mostrar cartão);
P.22 - Diz qual é o estatuto do aborto legal e pergunta se a pessoa é favorável à lei, à ampliação dos casos de aborto legal, ao fim da criminalização do aborto etc.;
P22ª - A entrevistado recebeu orientação para não votar naquele candidato da P.19 por causa do aborto?
Digamos, só digamos, que se constate que uma porcentagem relevante de eleitores recebeu, sim, a orientação de suas respectivas igrejas.
E daí?
A eventual confirmação dessa hipótese, com a indicação da confissão religiosa, exporá as igrejas e os religiosos — padres, pastores e outros — à pressão; no caso, é evidente que será à pressão oficial.
Não sejamos hipócritas, é evidente que essa pesquisa tenta confirmar uma hipótese: foi a migração do voto evangélico que impediu a vitória de Dilma no primeiro turno.
E só para encerrar: Datafolha, Ibope e os demais precisam avaliar o governo Lula e a popularidade do presidente semana a semana, o que é repetido pelas TVs à exaustão?
Isso já começa a ficar ridículo.
Que variação se espera entre uma sexta-feira e outra?
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