O Estado de São Paulo
"Era voz corrente na cidade que Gilberto Carvalho era o homem do carro preto, o cara da mala, que levava dinheiro da corrupção para o José Dirceu", disse ontem Mara Gabrilli, psicóloga, vereadora paulistana e deputada federal eleita pelo PSDB.
Quase nove anos depois do assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), de Santo André, um sentimento de frustração a persegue.
Filha do empresário Luiz Alberto Gabrilli, do setor de transportes, e autora da denúncia ao Ministério Público Estadual sobre arrecadação de propinas que teriam financiado caixa 2 petista, Mara cobra punição a empresários e políticos.
Ontem, ela recebeu "com alento e esperança" a notícia sobre ação judicial aberta contra Carvalho, chefe de gabinete do presidente Lula.
"Meu pai ligava para o gabinete de Gilberto Carvalho para avisar que havia coisas erradas na administração Celso Daniel.
Mas o Gilberto debochava do meu pai."
Celso Daniel foi executado à bala em janeiro de 2002.
A polícia concluiu que ele foi vítima de sequestradores comuns, mas os promotores se convenceram de que o crime teve origem política - o prefeito quis barrar o enriquecimento de auxiliares e acabou sendo eliminado.
A ação que cita Carvalho foi instaurada pela juíza Ana Lúcia Xavier Goldman, de Santo André.
O assessor de Lula é acusado de improbidade administrativa.
Na ocasião, Carvalho exercia o cargo de secretário de Governo de Celso Daniel.
A testemunha principal da promotoria é o oftalmologista João Francisco Daniel, irmão de Celso.
Ele narra ter ouvido do próprio Carvalho a informação de que parte de dinheiro de propina era entregue a Dirceu, então presidente do PT.
Uma das vítimas da ação da quadrilha que teria se estabelecido na prefeitura é a família Gabrilli.
Por mais de quatro décadas, Luiz Alberto, pai de Mara, conduziu a Viação Expresso Guarará.
"Meu pai está com 75 anos, não fala, não anda e não come, mas está consciente. Quando a gente lembra aquele tempo de terror ele chora."
Tantas foram as pressões, e também as retaliações, que os Gabrilli deixaram a empresa.
"Todo mês o Sérgio Sombra (segurança de Celso Daniel) vinha ao escritório da empresa, jogava o revólver na mesa e exigia a caixinha.
Minha mãe dizia para papai: "Luiz, leva um gravador, registra essas conversas e vá à polícia."
Mas o meu pai tinha medo.
Era uma gente muito violenta.
O objetivo era acabar com a empresa porque uma vez nos recusamos a pagar a caixinha.
Acabaram com a saúde do meu pai."
O problema é que o Celso achava normal se o dinheiro de propina ia para financiamento das campanhas do PT.
Os fins justificavam os meios.
Foi Mara quem alertou o Ministério Público.
Em 2003, ela foi ao prédio residencial de Lula, em São Bernardo do Campo.
"Ele me recebeu por 40 minutos, eu contei tudo.
Mas nenhuma medida foi tomada."
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