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Segundo turno para resistir ao rolo compressor do oficialismo, diz FHC.
Artigo de Fernando Henrique Cardoso, publicado hoje nos principais jornais do Brasil, intitulado "Segundo Turno".
A campanha eleitoral termina sua primeira fase como se estivéssemos escolhendo entre duas ou três pessoas em razão de suas diferentes psicologias, grandes feitos, pequenas fragilidades pessoais ou o que mais seja.
E não porque representam caminhos diversos para o país.
O governo de Lula e do PT se iniciou disposto a exercer o papel de renovador da política e da ética.
Termina abraçado com a despolitização e o clientelismo.
Ser pragmático é o que conta; ter bons índices de popularidade, aproveitar as águas calmas de um PIB em ascensão para distribuir benesses para todos os lados, fazer discursos inconsistentes, mesmo que chulos, para agradar a cada audiência.
E, sobretudo, criar muitas imagens, registrando desde o ridículo até o sublime.
Por trás das máscaras dos candidatos, contudo, existem opções reais.
Se elas se apresentam desfiguradas pelas técnicas mercadológicas, nem por isso deixam de representar distintas visões do país e interesses diversos.
É por isso que, diga-se ou não, o dia de hoje é marcante.
Em primeiro lugar, porque a despeito de o chefe da nação ter-se comportado como chefe de facção, chegando a falar em extermínio de adversários; apesar da massa de recursos mobilizada em propaganda direta ou indireta com as cornucópias públicas a jorrar rios de anúncios sobre “grandes feitos”; em que pese o personalismo imperial do presidente em sua verborreia incessante; não obstante tudo isso, com certeza pelo menos 40% dos eleitores não se dispõem a coonestar tal estado de coisas.
Em segundo e principal lugar, o dia de hoje é importante porque abre um caminho para a convergência entre os que resistem ao rolo compressor do oficialismo.
Temos em comum a recusa ao caminho personalista e autoritário.
Rejeitamos a ideia de que esse caminho seja o único capaz de trazer progresso econômico e bem-estar social.
Os que resistem ao rolo compressor acreditam que o antídoto para esses males é o fortalecimento das instituições, o respeito às regras legais e a afirmação de lideranças que não dividam o país entre “eles” – os maus – e “nós” – os bons.
É preciso recusar essa visão distorcida do país.
Não denunciamos a corrupção, o clientelismo e a ineficiência por “moralismo”, mas, sim, para mostrar, em nome da justiça social, o quanto os andares de baixo perdem com a ineficiência, a corrupção e o clientelismo.
Não aceitamos que os defensores do patrimônio público ou os que denunciam o abuso do poder político sejam, por isso, chamados de elitistas.
Haverá mais e não menos inclusão social e desenvolvimento quanto mais eficiência houver no governo e decência, na vida pública.
A votação de hoje provavelmente nos levará ao segundo turno.
Nele será indispensável mostrar que o PSDB não apenas foi decente como também fez muito pelo social quando foi governo.
A começar pela estabilização, que é obra do nosso governo.
Sem se arvorar a ser o único portador desses valores, é isso que Serra representa: a recusa da confusão entre malandragem e proximidade com o povo, entre abuso estatal no controle da economia e ação vigorosa do governo no manejo das políticas econômicas e sociais.
O dia é hoje, a hora agora, para começar a construir um futuro melhor: o país merece um segundo turno no qual o confronto aberto entre os contendores dê aos eleitores a oportunidade de ver as diferenças entre os caminhos propostos, encobertas até aqui pela rigidez das máscaras mercadológicas.
Íntegra aqui.
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