terça-feira, 2 de novembro de 2010

FHC diz não endossar mais PSDB que não defenda a sua história

MARIA CRISTINA FRIAS
COLUNISTA DA FOLHA
VINICIUS MOTA
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
Leiam a íntegra da entrevista na Folha


"Não estou mais disposto a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história", disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), em entrevista no instituto que leva seu nome, no centro de SP.

O ex-presidente diz que Lula "desrespeitou a lei abundantemente" na campanha e que promove "um complexo sindical-burocrático-industrial, que escolhe vencedores, o que leva ao protecionismo".

"O PSDB, e não o Serra, tem outros problemas mais complicados.
Não é falta de bons candidatos.
O problema é ter uma noção do coletivo, uma linguagem que expresse o coletivo, que não pode ser fechado no partido.
Numa sociedade de 130 milhões de eleitores, a mensagem conta muito --no conteúdo e no modo que se transmite."


Nesse campo, o seu governo quebrou o monopólio da Petrobras e implantou o modelo de concessão.
A fórmula proposta por Lula, de partilha, para o pré-sal, que traz novos privilégios à Petrobras, é melhor?


"Não posso responder, porque não vi a discussão.
Preocupa-me esse modelo porque força uma supercapitalização [da Petrobras] sem que se saiba bem qual será o modelo de venda desse petróleo.
Essa forma de partilha proposta é uma estatização do risco.
O risco quem corre é o Estado, ao contrário do modelo de concessão.

O que estamos fazendo é uma dívida.
Isso obriga a sobrecapitalizar a Petrobras.
Parece que não temos mais problemas de poupança no Brasil.
Entramos numa ilusão tremenda nessa matéria.
O Tesouro faz a dívida com o mercado e empresta para o BNDES ou para a Petrobras.
É como se não precisássemos mais poupar.
Mas a dívida está aí.
Essa questão o PSDB não politizou."


"Privatizar não é entregar o país ao adversário, pegar o dinheiro do povo e jogar fora.
Não.
É valorizar o dinheiro do país.
Tudo isso criou mais emprego, deu mais renda para o Estado."


"Do ponto de vista econômico, as questões estão bem encaminhados.
Os motores da economia são fortes.
Os problemas maiores são em outras áreas: educação, segurança, democracia, igualdade perante a lei, droga.
Não é para saber se a economia vai crescer, é se a sociedade vai ser melhor."


"O presidente Lula desrespeitou a lei abundantemente.
Na cultura política, demos um passo para trás, no caso do comportamento [de Lula] e da aceitação da transgressão, como se fosse banal."


"Houve abuso do poder político, que tem sempre um componente de poder econômico.
Quantos prefeitos foram cassados aqui em São Paulo, por exemplo em Mauá, por abuso do poder econômico?
Por nada, comparado com esse abuso a que assistimos agora.
Não posso dizer que houve progresso da cultura democrática brasileira.
Aqui está havendo outra confusão.
Pensar que a democracia é simplesmente fazer com que as condições de vida melhorem.
Ela é também, mas não se esqueça que as ditaduras fazem isso mais depressa."



Mas o PSDB deixou o Lula falando sozinho um bom tempo.

"Não foi só o PSDB.
Foi todo mundo.
Quando o nosso sistema presidencialista é exercido a partir de uma pessoa carismática como o Lula e que tem por trás um partido organizado, ele quase se torna um pensamento único."


"Aqui, fora da campanha, só o governo fala.
Quando fala sem parar, o caso atual, e sob forma de propaganda, fica difícil de controlar.
Jornal dá o "outro lado", mas a TV não dá --só dá na campanha.
O que a mídia em geral transmitiu ao longo desses oito anos?
Lula, violência e futebol."


"Mas o carro chefe para puxar [a oposição] não pode ser o governador.
Tem de ser o partido.
E não é o PSDB só.
Esses 44 milhões [votação de Serra no domingo] não são do PSDB.
É uma parte da sociedade brasileira que pensa de outra maneira.
E não se pode aceitar a ideia de que são os mais pobres contra os mais ricos.
NUNCA VI UMA ELITE TÃO GRANDE: 44 MILHÕES DE PESSOAS."

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