quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Herança maldita

Alguém poderia definir, afinal, o que é censura?
Eu ainda era jovem na época que a imprensa reclamava da censura, mas eu lembro muito bem que, cada escândalo que surgia, emissoras de rádio e TV anunciavam o fato em edição extraordinária, com direito ao prefixo mais alarmante possível.
E a voz dos locutores, então!
A percepção da gravidade dos fatos atingia níveis impensáveis nos dias de hoje.
E as manchetes de jornal faziam todo mundo correr para as bancas.

Pois bem, quantos escândalos tivemos nesses últimos oito anos?
Quanto dinheiro foi desviado por conta da corrupção desenfreada, e continua acontecendo, segundo dados divulgados pelo TCU (Tribunal de Contas da União), e cadê as matérias bombásticas para alertar a população?

A biografia da candidata vencedora está até hoje guardada num cofre, enquanto os boatos maldosos contra José Serra surtiram efeito e eis o resultado, perdeu a eleição.
Tiveram a gentileza de esperar passar o dia da votação para divulgar fatos que, com certeza, prejudicariam a candidata da situação.
Fica um questionamento, isso é justo?
De verdade, isso é má intenção, privilégio ou censura?

Deu na Folha de S. Paulo
Herança maldita
Eliane Cantanhêde


Foi só passar a eleição com seus programas alegres e coloridos e a realidade insiste em pipocar nas suas mais variadas formas.
Como uma chuva de bolinhas, não exatamente de papel.

Aliás, o escândalo da vez é no banco PanAmericano, do Sílvio Santos, que visitou Lula no meio da campanha e é dono também do SBT, a rede que reduziu o rolo de fita da agressão a José Serra no Rio a uma mera bolinha de papel.
Deve ser só coincidência.
De concreto, o rombo é milionário, a solução foi negociada com BC e CEF e tudo foi descoberto durante a campanha, mas só divulgado agora.

Outro "probleminha" detectado antes da eleição, mas que vem à tona depois dela, é que uma das turbinas da usina de Itaipu, com mais de 30 anos de uso, apresenta trincas de até 30 cm.
Quantas outras estão assim?
Taí uma boa pergunta, enquanto os dez partidos aliados se estapeiam pelo rico Ministério de Minas e Energia.

E como o país da urna eletrônica, um dos sistemas mais sofisticados de votação do mundo, não consegue fazer o Enem direito?
Rolou de tudo um pouco.
Teve prova repetida, erro de gabarito, aluno tuitando, um festival de irregularidades.
É nisso que dá fazer as coisas sem licitação -uma semana depois do segundo turno.

Para completar, mal acabaram de fechar as urnas e lá vem a eleita falar em CPMF, enquanto projetos de aumentos salariais tramitam no Congresso e grassa a suspeita de que as contas públicas chegam a 2011 fora de controle.

Deve ser por essas e outras que se discute a tal regulamentação da mídia, uma das coisas que a gente sabe como começa e não sabe como acaba.

Como as CPIs dos bons tempos do PT na oposição, lembra?

Lula deveria ter pensado bem antes de abandonar o governo às moscas e às Erenices para só fazer campanha.
Até porque Dilma, coitada, não vai ter a surrada bengala da "herança maldita".

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