Ou: Prozac, Zoloft ou Black Label?
Lula discursou na reunião do Conselho Nacional de Economia Solidária e afirmou que levará a presidente eleita, Dilma Rousseff, para a confraternização com os catadores de papel.
Desde 2003, o Babalorixá de Banânia, convertido em Cristo dos excluídos — só que ele é o cordeiro rechonchudo da exaltação, não o da expiação — se encontra com os catadores na véspera de Natal.
Embora Lula tenha contado com uma imprensa generosíssima na cobertura dos atos do governo — parte dela fazia seu trabalho; outra parte foi regiamente paga para elogiar —, ele reclamou: “Todo o esforço que fizemos durante esses oito anos não foi levado em conta, não foi divulgado, as pessoas sequer cobriam as conferências porque no Brasil, às vezes, uma briga entre duas pessoas na rua é mais importante que uma conferência que reuniu mais de 20 mil pessoas nesse país para discutir economia solidária”.
Não tem jeito!
Lula não suporta a independência da imprensa.
Vamos ver como ele vai compensar a síndrome de abstinência.
A fala sobre os catadores não passa de um rasgo perverso de demagogia.
Aqueles coitados compõem a miséria benfazeja.
Estão lá para que Lula possa exaltar as próprias virtudes.
Ele não se orgulha de tê-los tirado da abjeção.
Sua generosidade é de outro tipo: os desgraçados servem para provar que ele próprio não é preconceituoso como os governantes do passado.
Lula é do tipo que obtém lucro máximo com a desgraça alheia.
Quando menos, ela serve para que ele descubra em si mesmo um temperamento caridoso, tolerante e inclusivo.
De resto, não fosse um estilo — que, de todo modo, não é irrelevante, posto que há uma óbvia degradação institucional no país —, sua fala seria perigosa.
Quando afirma que o bastão, de fato, será passado a Dilma diante dos catadores, está, ainda que não tivesse clareza disto (e ele tem) criando uma oposição entre o legítimo e o legal.
A legalidade da transmissão do cargo seria menos importante do que esse batismo das ruas.
Levado a sério, esse pensamento tem, no ponto de chegada, a tirania.
Esse rapaz tende a dar trabalho a Dona Marisa Letícia: Prozaz, Zoloft ou Black Label?
Com que substância Lula preencherá as horas intermédias do tédio, entre uma lembrança e outra?
Não adianta lhe recomendar “Leite Derramado”.
Ele já confessou que Chico Buarque (devolve o Jabuti!) lhe dá sono!
Se bem que, dormindo, Lula é um pensador.
Por Reinaldo Azevedo
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