terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Problema com as UPPs

“Mas qual é o seu problema com as UPPs, afinal?”
Por Reinaldo Azevedo

A pergunta do título já me foi feita mais de uma vez.
Se a “unidade pacificadora” chega ao morro, impõe ali algumas regras básicas do estado de direito — e isso, em si, é bom —, mas condescende com o tráfico, e isso está acontecendo em pelo menos 11 das 13 favelas já “pacificadas, O QUE SE TEM É A LEGALIZAÇÃO DO TRÁFICO DE DROGAS, QUE PASSA A SER EXERCIDO SOB A PROTEÇÃO DO ESTADO.

E é por isso que os pés-de-chinelo do tráfico, os soldadinhos baratos do crime, perderam emprego.
Mudou a logística da operação.
Antes, os traficantes respondiam pela segurança do seu negócio — pagando, inclusive, propina à polícia.
Esse custo foi agora estatizado.

E o que a bandidagem oferece em troca?
Acaba aquela folia de ficar desfilando com fuzil pra cima e pra baixo.
Isso ofende o decoro e passa a impressão de que a cidade está fora do controle.
Para a capital que vai sediar as Olimpíadas de 2016 e que será centro operacional da Copa do Mundo de 2014, é muito ruim.

Uma objeção razoável ao que escrevo poderia lembrar que existe tráfico de drogas no Brasil inteiro, mesmo em pequenos e aprazíveis municípios do interior; nem por isso os traficantes andam de fuzil na mão e se tornam o poder local.
É verdade.
Se os morros do Rio, pois, passarem a gozar dessa condição, dizem, igualam-se ao Brasil: existirá o tráfico, mas com estado de direito.

A objeção é razoável, mas é contestável.
Não se deslocam unidades especiais de polícia para tomar conta de “comunidades específicas”, como é a UPP.
Mais: exceção feita aos casos de corrupção policial, o tráfico é reprimido.

As UPPs, como estão, deveriam se chamar UPTs: Unidades de Pacificação do Tráfico — ou até de proteção.
Ele passou a ser, na prática, tolerado e protegido, ainda que os policias que lá estejam sejam anjos, sem qualquer compromisso com a bandidagem.

O Rio entrou em transe porque a bandidagem barata do tráfico foi sendo desalojada. No melhor dos mundos, todos os morros do Rio serão ocupados por UPPs, e o tráfico passará a empregar, sei lá, 2 mil pessoas em vez das estimadas 16 mil.
Como o governo do Rio não gosta de prender bandido, pergunto: aquela gente vai pra onde?
Uma alternativa é oferecer o Bolsa Traficante.
A outra é despachar a bandidagem para São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais…

É claro que eu sou favorável a favelas pacificadas.
Mas acho que o tráfico de droga tem de ser combatido em vez de ser submetido a uma espécie de regulamentação informal, protegido por homens que envergam o uniforme das forças de segurança do estado.

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