domingo, 7 de novembro de 2010

O camaleão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é mesmo incorrigível.
Quer tudo e muito mais.
Não lhe basta ser popular; é preciso ser unânime.
Tampouco lhe é suficiente vencer; é preciso tripudiar, expor as vísceras dos derrotados.
E quando não é de todo cruel – aquele que quer “extirpar” de vez quem se opõe a ele - age com requintes de esperteza.

Como raposa em pele de cordeiro, trouxe novamente à tona a famigerada CMPF, desta vez travestida em reivindicação de governadores.

E voltou a vestir a outra velha pele, a de vítima, falso legado que, ao que parece, pretende transmitir à Dilma.
Aos olhos de Lula, ela teria sido trucidada durante a campanha eleitoral, simplesmente por ser mulher.
Assim como ele, por ter sido torneiro mecânico.

Ora, verdade seja dita.
Se há algo que sempre agiu a favor de Lula foi ter sido metalúrgico.
Muito menos houve qualquer discriminação de gênero em relação a Dilma.

No máximo, foi “acusada” de ter sido guerrilheira.
E daí?
De fato, ela optou por esse caminho, assim como tantos que, à época da ditadura militar, apostavam no sucesso da luta armada, enquanto outros preferiam a via institucional.

Só mesmo quem criou e moldou Dilma poderia pensar em lhe impor uma aura de discriminação, e ainda por cima, por ela ser mulher.
Chega a ser um acinte às mulheres que todos os dias, horas a fio, lutam, às vezes com poucas armas, em jornadas duplas ou triplas, para manter os seus filhos, lares e empregos.

No dia seguinte, na reunião com os seus ministros, Lula mudou de bicho, mas repetiu a dose.
Depois de criticar opositores e encher-se de elogios disse que vai lutar como um leão pela reforma política, tema pelo qual não mexeu palha alguma em quase oito anos de mandato.

O presidente terminou a semana soltando os cachorros para cima de ex-embaixadores, rosnando feio para os críticos de sua política externa.
Paradoxalmente, horas depois, defendeu, em pronunciamento na TV, o respeito mútuo, e a divergência madura e civilizada entre governo e oposição, como se não fosse ele um transgressor permanente dessa pregação.

De novo não se importou em quebrar regras e abusar de um direito de Estado em nome de seus interesses.
Em cadeia nacional, cumprimentou “a companheira Dilma” pela vitória, um desrespeito aos brasileiros que, mesmo tendo conferido a maioria dos votos à sua candidata, não pertencem, obrigatoriamente, ao seu partido ou à sua turma.

Seja qual for o animal que escolherá daqui até o final de seu governo e durante o governo de sua sucessora, Lula, há tempos, encarnou o camaleão, que, de acordo com o público, assume a forma e a cor que lhe convém.

Mary Zaidan é jornalista

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