domingo, 21 de novembro de 2010

O chiqueiro tem dono: o PMDB.


Artigo de Marco Antônio Villa, na Folha de São Paulo:

Quarenta e quatro porcento do eleitorado disse não à presidente Dilma.
Ela entendeu o recado das urnas.
Mas, curiosamente, a oposição fez ouvidos de mercador.
Ao invés de imediatamente iniciar a discussão de um projeto alternativo, simplesmente desapareceu do cenário.
Continua tão desarticulada como nos últimos oito anos.
Isso apesar dos vários esqueletos que estão saindo do armário governamental, especialmente o megaescândalo envolvendo o rombo bilionário do banco PanAmericano.
Com uma base de dez partidos -e com vários parlamentares oposicionistas sedentos para aderir ao governo-, o maior problema de Dilma será administrar a voracidade dos seus apoiadores.

É sabido que o PMDB não passa de uma federação de caciques estaduais.
A divisão do partido é, por estranho que pareça, a sua força.
Blefa como qualquer jogador.
E, algumas vezes, vence.
O partido atual não tem qualquer relação com o velho MDB/PMDB liderado pelo dr. Ulysses.
Aquele foi fundamental na luta pela redemocratização.
Tinha princípios políticos, lideranças expressivas e reconhecidas pela integridade moral. Foi considerado pelo PT, na época, o seu principal adversário.

O PMDB de 2010 é muito diferente: é o mais destacado representante do saque organizado do Estado.
Precisa controlar ministérios e empresas estatais para sobreviver.
É um dependente crônico do fisiologismo.
Curiosamente, com este PMDB, de Renan Calheiros, Jader Barbalho e José Sarney, o PT se relaciona bem.

É um grave equívoco imaginar que o PMDB possa ser um anteparo ao autoritarismo tão presente em algumas frações do PT.
A preocupação do partido não é com a proteção das liberdades públicas.
Isso foi no passado.
Hoje, o interesse central dos seus dirigentes é a manutenção dos seus negócios.
E, para eles, será até preferível, dentro dessa lógica perversa, criar dificuldades, por exemplo, à liberdade de imprensa.
Afinal, é na imprensa que são sistematicamente denunciadas suas mazelas.
O anúncio da tentativa da formação de um "blocão" na Câmara foi só a primeira demonstração de que o PMDB vai ser para a presidente Dilma uma pedra no sapato.
Certamente, muito maior do que a oposição.
Para os peemedebistas, governabilidade significada transacionar, colocar o erário à seu serviço.

Basta ler o noticiário dos últimos dias para confirmar essa tese.
Em nenhum momento foi invocada algum razão programática.
Todas as vezes a referência foi sobre o tamanho do orçamento do ministério ou da empresa estatal.
Em qualquer país sério, seria considerado um escândalo; no Brasil, como um sinal dos tempos sombrios em que vivemos, é considerado algo absolutamente natural.
Não será estranho a ocorrência de uma crise entre o PMDB e a presidente logo nos primeiros meses de governo.

MARCO ANTONIO VILLA, historiador, é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFSCar. É autor, entre outros livros, de "Breve História do Estado de São Paulo" (Imprensa Oficial).
Íntegra aqui.

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