por Merval Pereira
O professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense Daniel Aarão Reis comentou comigo, na bancada do "Jornal das Dez" da Globo News do dia da eleição, que achou que os dois candidatos estavam muito tensos mesmo quando emitiram as protocolares mensagens de reconciliação política.
De fato, a presidente eleita, Dilma Rousseff, fez um discurso frio, assumindo compromissos importantes, mas sem emoção.
Partiu do candidato derrotado, José Serra, o tom aparentemente mais inusitado, mas que não deveria provocar tanta surpresa aos petistas, mas sim aos tucanos.
Serra acenou com a intenção de sair da eleição como líder da oposição, e num tom muito acima do que imprimiu na própria campanha:
"Nestes meses duríssimos, quando enfrentamos forças terríveis, vocês alcançaram uma vitória estratégica.
Cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza, consolidaram um campo político em defesa da liberdade e da democracia no Brasil.
Em defesa das grandes causas econômicas e sociais do país", disse, pintado para a guerra, dirigindo-se aos 44 milhões de eleitores que votaram nele neste segundo turno.
Quem deve ter ficado surpreso e preocupado é o senador eleito por Minas Aécio Neves, considerado pela maioria como o herdeiro natural das bandeiras do PSDB e candidato natural à Presidência da República em 2014.
Os petistas não têm direito de ficar espantados nem de reclamar da dureza das palavras num momento de festa pela eleição da nova presidente do país.
Em 1994, Lula saiu derrotado da campanha presidencial chamando o Plano Real de "estelionato eleitoral" e durante todos os oito anos de mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso o PT votou contra todas as propostas do governo, desde o Plano Real em si.
O PT foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Fundef, que mudou radicalmente o financiamento do ensino fundamental no país; contra a criação da CPMF; contra a reforma da Previdência; contra a privatização das telecomunicações, entre muitos outros temas.
Em janeiro de 1999, reeleito Fernando Henrique no primeiro turno, o PT lançou uma campanha "Fora FH", e o hoje governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, escreveu um artigo na "Folha de S. Paulo" pedindo o seu impeachment.
Portanto, o tom belicoso de Serra na sua fala à Nação nada mais é que uma proposta de postura à oposição derrotada mais uma vez pelo PT, uma tentativa de marcar posição desde o primeiro momento.
A oposição que saiu das urnas fortalecida, no comando de 11 estados — 8 governados pelo PSDB; dois, pelo DEM; e um, pelo PMDB dissidente — governará 56% da população e 60% do PIB, e teve mais votos do que nas duas últimas eleições em que foi derrotada, reduzindo em quase dez milhões de votos a diferença para o PT.
O PSDB sozinho governará a partir de janeiro cerca de 47% dos brasileiros, quase metade do eleitorado brasileiro.
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