Começo este texto pela ressalva: qualquer comentário que não leve em conta a truculência oficial no processo eleitoral será sempre manco.
Nunca se viu uso tão descarado da máquina pública em favor de uma candidatura. O desassombro com que o presidente Lula renunciou a qualquer resquício de decoro, à tal liturgia do cargo, para se entregar ao bate-boca eleitoral é certamente inédito.
Nunca se viu uma agenda administrativa tão colada à agenda eleitoral e partidária.
Até mesmo o anúncio de uma possível nova reserva gigante de petróleo no pré-sal - que pode conter “x” bilhões de barris ou “5x” - se fez de acordo com as exigências do calendário político: dois dias antes da eleição.
Nunca antes nestepaiz se viu tanta sujeira numa campanha. J
á na largada, descobriu-se um verdadeiro bunker montado em Brasília destinado à produção de dossiês.
Constatou-se, o que endossou as acusações de Serra, que o sigilo fiscal de tucanos e de familiares do candidato havia sido violado.
Em todos os casos, as digitais do petismo se fizeram presentes.
No bate-boca eleitoral, atribuiu-se, com a colaboração de setores da imprensa - o que é fabuloso -, o jogo bruto à vítima.
Isso também é inédito Feitas as ressalvas, retomemos o fio.
Há pelo menos oito anos, esta que se chama hoje oposição é refém da narrativa que o PT inventou para ela.
As três campanhas eleitorais tucanas - 2002, 2006 e 2010 - mostraram-se incapazes de responder à vaga de desqualificação do petismo.
Nem mesmo se pode dizer que consegue ser apenas reativa porque nem a isso chega.
Ao contrário até: faz um enorme esforço para mudar de assunto.
E a estratégia tem falhado reiteradamente.
Tenho pra mim que há três eleições pelo menos os tucanos se tornaram reféns também de pesquisas qualitativas: em 2002, o fantasma era a “impopularidade” de FHC,...
E o governo que havia estabilizado a economia, domado a inflação, tirado muitos milhões da miséria, inaugurado os programas sociais que viraram o Bolsa Família, bem, aquele governo parecia um anátema.
Em 2006, com Geraldo Alckmin candidato, o PSDB insistiu no mesmo erro básico - medo de sua história.
O fantasma da privatização, brandido de novo pelo petismo, é um bom emblema.
O marketing tucano caiu duas vezes no mesmo truque, tropeçou duas vezes na mesma pedra, permitiu que João Santana risse duas vezes da mesma piada.
Em nenhum momento os programas eleitorais do PSDB se lembraram de INFORMAR aos eleitores que, quando FHC chegou ao poder, o Brasil produzia 700 mil barris de petróleo por dia; quando ele deixou o governo, em 2002, o país produzia 1,4 milhão de barris - o dobro.
No governo Lula, o aumento da produção foi de 50%.
De fato, foram oito anos de quase não-oposição - essa é a verdade.
E não se consegue despertar para esse mister nos quatro ou cinco meses que antecedem uma eleição.
Nesse tempo, o PT contou a história como bem quis.
Eu sugiro que os tucanos, democratas e quantos se oponham ao PT tentem apresentar sempre propostas MELHORES.
E que não tenha receio de ter a sua agenda.
É difícil?
Claro que sim!
Mas precisa ser feito.
Agenda comum?
Como sempre, o começo do governo será pautado pela urgência da reforma política, da reforma tributária, da reforma trabalhista - as reformas, enfim, que todos dizem querer fazer e que acabam não sendo feitas.
O governo Dilma terá maioria esmagadora na Câmara e no Senado.
Mas sabemos todos que essa maioria nominal não diz muita coisa a depender do tema.
Sim, a oposição tem de ter as suas próprias propostas e brigar muito por elas no detalhe, comparecendo para o debate.
Quem quer que vá liderar esse trabalho tem de se mostrar como uma alternativa de poder, não como linha auxiliar do governo, o que o PSDB demonstrou ser muitas vezes.
Isso não impediu, como se viu em 2006 e 2010, o eficiente trabalho de satanização promovido pelo PT.
Considerados os governos dos estados, as oposições governarão praticamente a metade da população e, vou fazer as contas, mais de 60% do PIB.
Têm um base formidável para traçar as coordenadas de seu futuro.
E, curiosamente, o seu futuro tem de começar por não ter medo do seu passado, que tem de ser libertado do cativeiro em que o prendeu o PT.
Por Reinaldo Azevedo (leiam na íntegra)
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