sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Restos da campanha

Por Merval Pereira

Reza a lenda que José Serra, o candidato tucano derrotado nas eleições presidenciais de outubro, não perdoa o governador de São Paulo Alberto Goldman por ter anunciado o resultado da licitação de um trecho do metrô na semana final da campanha do segundo turno.
Assuntos delicados como esse deveriam ficar para depois das eleições, para evitar ruídos políticos.

O governo, por sua vez, está revelando nos últimos dias como pensou em tudo para ganhar a eleição.

Não tratou de assuntos delicados na campanha, como as reformas estruturais, e quando o fez foi para prometer reduzir a carga tributária.

Mal se fecharam as urnas, nós os cidadãos ficamos sabendo que havia um movimento para ressuscitar a famigerada CPMF.

Estourou também o escândalo de inépcia do Enem, um outro tipo de trapalhada, diferente da ocorrida em 2009, mas sempre prejudicando os alunos.

Sorte do governo que o Enem foi realizado em novembro, depois das eleições.

Sorte não, precaução.

O Enem foi realizado em setembro em 2008 e em outubro em 2009, e este ano, alegadamente por causa das eleições, o calendário teve de ser alterado para novembro.

E tem ainda a medida provisória dando, através do BNDES, R$ 25 bilhões para financiar o trem bala entre Rio e São Paulo, dando como garantia as ações de uma companhia privada que ainda não foi constituída, e mais um provisionamento de R$ 5 bilhões para o caso de necessidade.

Isso depois que a presidente eleita ficou a campanha inteira afirmando que o trem bala era importantíssimo, mas não receberia dinheiro público.

O caso mais grave, no entanto, foi o do Banco Panamericano, que o governo sabia que estava quebrado pelo menos desde agosto, devido a uma auditoria rotineira do Banco Central.

O fato de ter havido uma solução de mercado, com a utilização do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para cobrir o rombo de R$ 2,5 bilhões, é louvável, mas não é exatamente correto o governo dizer que não houve dinheiro público na transação.

Quando a Caixa Econômica Federal assumiu 49% do Banco Panamericano em 2009, ele já estava quebrado, sabe-se hoje.

A sequência do caso é muito sintomática: a fraude foi detectada em agosto, no dia 20 de setembro o empresário Silvio Santos esteve no Palácio do Planalto com o presidente Lula e em 11 de outubro começou a negociação.

Lula diz que não é papel do presidente da República tratar de negócios de bancos privados.
E tratar do Teleton é?

No dia 20 de outubro, o candidato oposicionista José Serra foi agredido por um bando de petistas em Campo Grande, no Rio, quando fazia uma caminhada com seus correligionários.

A certa altura do tumulto, foi atingido na cabeça por algo pesado, que lhe provocou fortes dores.

Mais tarde, o artefato que atingiu Serra foi identificado como um rolo de fita.

O telejornal matinal da rede de TV SBT, no dia seguinte, exibiu uma filmagem que pretendia reproduzir a seqüência dos fatos ocorridos em Campo Grande no dia anterior, mostrando que Serra fora atingido apenas por uma bolinha de papel e só colocara as mãos à cabeça 20 minutos depois, após conversar com alguém pelo telefone.

A denúncia de que o candidato da oposição armara uma farsa para tentar tirar proveito político de um tumulto insignificante foi prontamente adotada por ninguém menos que o próprio presidente da República, que passou a divulgar a versão do SBT como a verdade dos fatos.

No mesmo dia à noite, o Jornal Nacional demonstrou, com base em uma perícia de Molina, que o momento em que a bolina de papel atingiu Serra é completamente distinto do outro, em que ele foi atingido pelo rolo de fita.

Mas a versão da bolinha de papel foi usada até mesmo na propaganda eleitoral gratuita da campanha petista, e serviu para neutralizar o provável prejuízo político que a campanha petista sofreria.

2 comentários:

  1. Talvez falta ao cidadão, compreender que não é o o que a bolinha de papel pode ter ocasisionado, mas sim a atitude de quem lançou. Quando um candidato é agredido fisicamente, seja por papel ou por tiro, fica demonstrado que a ação é no minimo criminosa. Esta impedindo o direito de ir e vir, o de se manifestar, o de manifestar livremente, incitando a violencia. Isto deveria ser tratado como crime eleitoral e contra a democracia, pois ao tolerarmos pequenos atos contribuimos para eles se avolumem, e dando salvo conduto a quem pratica esta forma de intolerancia
    luizmlima@yahoo.com.br

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  2. Anônimo
    Lula é a LEI no Brasil.
    Lula pauta a imprensa e a Justiça.
    Ele desmoralizou o Serra e todo mundo aceitou calado.

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