Seria injusto dizer que os ataques aos traficantes no Rio de Janeiro são uma reação nova ao crime.
Não são.
Tampouco podemos considerar certo que 25 de novembro seja o dia em que “o Brasil começou a vencer o crime”, como escreveu a revista Veja.
A batalha contra o tráfico no Rio está longe de ser vencida por inúmeras razões que serão abordadas a seguir e que indicam uma reflexão sobre como os governantes e a sociedade do Rio de Janeiro devem agir de ora em diante.
A ocupação do Complexo do Alemão, que seria uma etapa a ser cumprida mais à frente, foi antecipada devido à completa estupidez e à ausência de sentido estratégico dos traficantes.
Acreditaram que uma ofensiva urbana seria capaz de paralisar a polícia e, quem sabe, colocar a sociedade contra os esforços de combate ao crime.
Talvez, considerando o quadro patológico das instituições no Rio de Janeiro, o raciocínio pudesse estar correto.
Mas não está.
A bandidagem continua sem entender que a sociedade gosta da droga, mas não da violência.
Misturar uma coisa com a outra é seguir a rota do fracasso.
A batalha territorial se vence com a ocupação dos territórios.
No entanto, estamos longe da vitória final pelo simples fato de que a cultura do crime e a cultura da droga ainda não estão sendo adequadamente combatidas.
Muitos bacanas continuam gostando de cheirar cocaína e fumar maconha sem se importar com a cadeia de eventos que vem atrás desse prazer.
No âmbito da bandidagem, o romantismo bandido é cultuado como se a morte no crime fosse um destino glorioso e inevitável.
Ambas são posturas esteticamente atraentes.
Evidente que, na esfera do crime, temos ainda o apelo financeiro.
Ao invés de ralar e enfrentar um sistema social injusto e carente de oportunidades, muitos optam pelo ganho no crime, mais rápido e lucrativo.
Porém, não se trata apenas da questão do dinheiro e das mulheres.
Existe o status que a bandidagem representa.
Status que faz astros do futebol transitarem em áreas de convivência pacífica com a bandidagem.
Culturalmente seria cool ser bandido?
Para muitos, sim.
Do mesmo modo que muitos acham uma “violência” a PM montar uma blitz e prender quem tem maconha ou cocaína.
Cultural e esteticamente, a sociedade terá que considerar o crime um não caminho, e o consumo de drogas, algo impensável.
Ainda é um longo percurso a ser percorrido.
Murillo de Aragão é cientista político
No Noblat
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