Réu, chamado de “chefe de quadrilha”, pede controle da mídia.
Faz sentido!
Por Reinaldo Azevedo
A Central única dos Trabalhadores promoveu um evento chamado “Democracia e Liberdade Sempre”.
Conferiu prêmios a alguns batutas que, a seu juízo, foram expressões nessa área.
Entre eles, estava José Dirceu!
O encontro também serviu como um desagravo a Dilma Rousseff porque a Central considera que a sua opção, no passado, pela luta armada foi criminalizada.
Pois bem: se a patuscada era para celebrar “democracia” e “liberdade”, nada como descer o porrete na “mídia”, certo?
Foi o que fez o deputado cassado por corrupção José Dirceu, réu que a Procuradoria Geral da República chama “chefe de quadrilha”.
Pois bem: ele disse que a “mídia” precisa, sim, de regulação.
Mas, ressalvou o agora “consultor de empresas privadas”, há de ser uma regulação adaptada à nossa realidade.
Ocorre que a regulação “adaptada à nossa realidade” já existe.
É uma farsa grotesca essa história de que o setor existe num vácuo legal.
A quem interessa essa mentira?
Àqueles que, sob o pretexto de nos propor uma “técnica”, querem nos impor uma “política”.
O aspecto mais deletério do que se conhece da proposta do governo é mesmo o “controle de conteúdo”, uma forma oblíqua de instituir a censura no país.
O chefão do PT afirmou que as empresas não querem regulação porque temem a concorrência: “É o que eles temem. Não é imprensa alternativa, de esquerda ou sindical. É a própria concorrência capitalista”.
Huuummm… Devo entender, então, que Dirceu está empenhado em “manter a concorrência capitalista” no setor.
À sua maneira, o governo Lula já faz isso, usando o nosso dinheiro, aquela fatia reservada à publicidade oficial e de estatais.
Todos os veículos amigos são generosamente aquinhoados.
Há até um galinheiro no fundo do quintal moral do Palácio para sustentar — seja com financiamento direto, seja com triangulações — a guerra suja na Internet.
Petistas hoje já se orgulham de “ter” três redes de televisão, duas revistas semanais e dois portais da Internet.
A abordagem de Dirceu é curiosa porque, até onde se sabe, não há nenhuma proposta para alterar, por exemplo, a presença de capital estrangeiro nas empresas de comunicação, hoje limitado a 30%.
Um debate que ainda promete render é que essa limitação não vale para empresas de telefonia, por exemplo, que atuam na Internet, muitas delas prestando serviços jornalísticos, mas sem as limitações impostas às empresas de comunicação propriamente.
E o que José Dirceu tem com isso?
Muito mais do que se imagina!
Ele é apontado no mercado como “o” homem, no Brasil, do grupo português Ongoing, que já é dono dos jornais “Brasil Econômico”, do qual o réu e “chefe de quadrilha” (segundo a PGR) é colunista, “O Dia”, “Meia Hora” e “Marca”.
Quer agora investir em televisão: a Rede TV e a Bandeirantes estão na mira.
Qual é o truque?
A Ejesa (Empresa Jornalística Econômico S.A.), que edita esses jornais, tem 70,1% de seu capital em nome de Maria Alexandra de Almeida Vasconcellos, brasileira, mas casada com Nuno Vasconcellos, presidente do Ongoing, que detém 29,9% da Ejesa.
Em Portugal, dá-se como certo que é o grupo que comanda esses veículos por aqui.
No meio político, o “Brasil Econômico” é chamado “aquele jornal do Dirceu”.
Evanise Santos, namorada do réu, é diretora de marketing institucional da Ejesa.
O Ministério Público Federal de São Paulo abriu investigação para apurar a atuação do grupo português no Brasil.
O governo quer a “regulação da mídia?
Quer, sim!
Mas sabe que ela dificilmente sairá como ele deseja.
Hoje, o empenho do PT é outro: reforçar a “grande mídia alternativa”, isso que Dirceu chama de “concorrência capitalista” e que não passa de arranjo de cartório.
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