O “cara” está indo embora mas está deixando a casa toda arrumadinha.
Afinal, como ele disse na campanha, dona Dilma é ele, ele é dona Dilma.
Ele vai ter que ir mesmo, mas enquanto não vai trata de ajeitar as coisas: para o ‘alter ego’ que elegeu, deixa uma reconfortadora frase-“ o governo terá a cara de Dilma”- e um desmentido factual dessa mesma frase em tempo real e em forma de herança:
- deixou nomeados Nelson Jobim, o herói que conquistou o Haiti em uniforme de campanha e o que tentou mas não conseguiu aumentar a distância entre as poltronas para acomodar os mais volumosos nos aviões de carreira;
- Fernando Haddad, o ministro da Educação que vive tropeçando e engasgando nos exames para avaliar a qualidade de sua educação;
- Guido Mantega, o que combaterá a inflação censurando os preços que ousarem subir;
- e Marco Aurélio Garcia, o chanceler-sombra, autor da destemida política externa que ruge para os Estados Unidos enquanto mia para o Paraguai ou a Bolívia.
Depois de 8 anos de glória e embevecimento pelo som de sua própria voz e pela profunda filosofia de suas metáforas, convencido de que é a própria encarnação do povo, Lula está fazendo a arrumação da casa para a nova inquilina, e como parte dessa arrumação quer legar-lhe também um avião de 500 milhões de reais que não nos envergonhe nos aeroportos do mundo.
Afinal, o velho Aerolula (na verdade, um moderno Airbus A319CJ) que tanto nos humilha com sua escassa autonomia de vôo, já vai fazer 8 anos, e pode ser recolhido aos hangares em companhia do decrépito Sucatão em que FHC deu algumas voltas ao mundo.
Às vésperas de voltar para a planície, porém, Lula nos deixa também alguns legados dispensáveis,que seria de bom tom que não freqüentassem a narrativa presidencial que ficará para a posteridade, tais como:
- a defesa da família Sarney como instituição da República;
- o truque da transformação do episódio do mensalão numa “tentativa de golpe”;
- o condicionamento constante do seu apreço pela liberdade de imprensa à publicação da “verdade”, como se ele fosse dono de sua única versão válida e publicável;
- a repetição incessante da falácia da existência de um “preconceito das elites” contra o pobre retirante nordestino e depois operário metalúrgico que voou do nada para a Presidência da República;
- o desprezo às dissidências políticas perseguidas e esmagadas por regimes comandados por autocratas amigos;
- e, por último, mas não menos importante, a negativa insistente de qualquer avanço histórico do País antes do advento de sua gloriosa e inatacável figura e do seu tão nunca-antes-tão-maravilhoso governo.
Como Lula mesmo disse numa entrevista a rádios comunitárias na quinta-feira, dia 2, sobre a chegada do momento de ir embora: “Preciso me mancar”.
Do jornalisata Sandro Vaia no blog do Noblat.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário