Por Ruy Fabiano
No blog do Noblat
A decisão dos governadores do PSDB de não fazer oposição ao governo Dilma Roussef confunde mais do que esclarece.
E expressa uma abominável tradição: a do adesismo utilitário, que desconsidera ideário programático e compromisso com o eleitor.
É claro que o papel de um governador é governar.
Mas isso não o impede de manter postura crítica, sobretudo no campo programático, e se associar ao discurso da bancada parlamentar oposicionista, com o qual, afinal, se elegeu.
Essa lógica, no entanto, parece ter passado longe dos governadores tucanos que se reuniram em Maceió, na quarta-feira.
Lá, decidiram optar pelo “fortalecimento das relações do partido com a sociedade, com sua base política e partidária, com o governo federal e com os municípios”.
Em suma, disseram que, embora eleitos pela oposição, não farão oposição.
Isso é para o Congresso.
Por trás dessa retórica cívica, que o Conselheiro Acácio, de Eça de Queiroz, subscreveria, está a ideia servil de que um governador precisa estar bem com o presidente da República para que este não maltrate o estado.
Não é um sinal de avanço democrático.
Prevalece como um dado da cultura política brasileira.
Nas eleições, os candidatos ligados às forças situacionistas proclamam essa condição de “amigos do rei” para convencer o eleitor a optar pelo voto pragmático, interesseiro, que desconsidera quaisquer outros valores, inclusive de ordem moral, para ater-se à visão meramente utilitária.
A lógica é descarada: sendo o candidato amigo do presidente, o estado ou a cidade serão beneficiados por verbas generosas e obras providenciais.
Não sendo, o padrão será de sufoco.
Há evidente desvio ético nesse fundamento.
Afinal, seja lá quais forem as relações, pessoais ou políticas, entre os governantes, o contribuinte continuará a sustentá-los com seus impostos.
O que os governadores do PSDB, que irão cuidar de algumas das principais unidades federativas do país, como São Paulo e Minas, perderam, na reunião de Maceió, foi a oportunidade de denunciar esse padrão adesista e comprometer-se com sua mudança.
Nenhum presidente da República assume sua parte nesse processo. Todos juram que tratam os adversários do mesmo jeito.
Na prática, porém, prevalece o velho axioma: aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei. Em alguns casos, nem a lei.
(...)
Em 2002, Lula se elegeu presidente condenando o governo de FHC por práticas neoliberais.
Mas, a seu lado, como candidato a vice-presidente, estava José Alencar, representando nada menos que o Partido Liberal.
Em São Paulo, o empresário e presidente da Fiesp, Paulo Skaf, filiou-se ao Partido Socialista Brasileiro e por ele disputou o governo do estado.
São contradições explícitas, assimiladas como inerentes ao pragmatismo político brasileiro.
A julgar pelo manifesto dos governadores tucanos em Maceió, o PT continuará sendo beneficiário de uma democracia sem oposição.
E os seus problemas, mais uma vez, decorrerão da voracidade fisiológica das alianças internas que sustentam o governo.
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