No blog do Alon
Há uma maneira simples e engenhosa de fazer concluir que o Brasil vai bem em todas as áreas.
Basta escolher adequadamente, em cada caso, com quem comparar.
Uma “teoria da relatividade” que revoluciona não a Física, mas a arte da esperteza.
E se compararmos nosso crescimento ao dos demais emergentes, nossos indicadores sociais aos dos países desenvolvidos, nossa democracia à dos nórdicos?
Haverá talvez motivo para depressão.
Outro expediente sábio, para essa finalidade, é olhar de modo seletivo para o passado ou para o futuro, conforme a conveniência.
Quando a economia brasileira, especialmente a indústria, sofria o tranco forte da recente grande crise, o discurso das autoridades diante de cada índice ruim era repetitivo: o número preocupante refletia o passado, sendo mais eficaz olhar para as promessas de futuro, grávidas das tendências de superação.
Agora, ao contrário, festeja-se o crescimento do PIB, sem que o discurso oficial procure atentar para dois detalhes:
1) na média do pós crise o crescimento tem sido modesto e, principalmente,
2) a taxa reflete um movimento passado de recuperação, que portanto já foi.
Uso a redundância porque são tempos em que ela se tornou fundamental, dada a intensa produção da fábrica de lides do oficialismo.
Essa é aliás uma que não sente a crise.
Nunca sentiu.
O presidente da República que sai não conseguiu, infelizmente, cumprir a principal promessa do segundo mandato, que pode ser desdobrada em duas: colocar o país em crescimento acelerado e também sustentado.
Não confundir com sustentável. São coisas bem diferentes.
Os últimos números desenham a situação com certa clareza.
A sensação de prosperidade, que tantos dividendos políticos trouxe ao situacionismo este ano, decorre de uma positiva expansão do crédito e do consumo, mas que infelizmente não vem sendo adequadamente acompanhados pela produção nacional.
As importações fecham o buraco, ao custo da deterioração da balança comercial e das contas externas consolidadas, que dependem como nunca antes na história deste país (ou como sempre) da entrada de investimentos diretos, o nome bonito da alienação de ativos, da desnacionalização.
Em miúdos, estamos como a família que vive bem, mas à custa da poupança e do sacrifício alheios.
Mas sigamos a receita de 2008/09 e esqueçamos o que passou.
Olhemos para adiante.
Se o tsunami de crescimento projetado para o segundo quadriênio do presidente que sai revelou-se uma marolinha, é preciso saber que coelho Dilma Rousseff vai tirar da cartola para fugir do déjà vu.
O primeiro movimento, como sempre, é cortar à vista no custeio, com a esperança de abrir um fôlego ao investimento público.
A dúvida é se Dilma no médio e longo prazos terá como resistir às pressões políticas e corporativas, dado que os políticos e as corporações são a espinha dorsal da base de sustentação e vêm habituados à generosidade do antecessor.
Outra indagação é se Dilma conseguirá finalmente elevar, para valer, as taxas de investimento público, ou se vai acabar concluindo que a única maneira de subir os índices de poupança e investimento é dar as costas ao paquiderme e confiar a coisa ao setor privado.
Esta variável tem a ver com a anterior, do custeio.
O noticiário tem se debruçado sobre a composição da equipe, atendendo a uma curiosidade natural.
Do meu lado, estou mais curioso para saber como - e se - a presidente que assume em janeiro vai desfazer o nó dos juros, do câmbio, do custeio, dos investimentos.
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