Leiam a íntegra do editorial do Estadão aqui:
O êxito da operação conjunta das polícias cariocas e das Forças Armadas para desalojar os traficantes de drogas de favelas da zona norte do Rio de Janeiro tem provocado uma compreensível sensação de júbilo e alívio na população carioca e, por extensão, na de todo o País.
A reação da opinião pública tem muito a ver, é claro, com a dimensão de espetáculo com que a mídia, especialmente a televisão, tem colorido a cobertura desses acontecimentos.
Mas isso tudo é apenas um começo, como já enfatizamos neste espaço.
Qualquer possibilidade de solução duradoura para a falência da autoridade do Estado, que é o que, em última análise, está por detrás do drama carioca, depende de medidas firmes e radicais que só produzirão resultado a médio e longo prazos.
E essas medidas só poderão ser tomadas a partir do instante em que houver por parte de todos - da sociedade e dos vários níveis de governo - uma compreensão ampla e profunda da realidade que domina hoje o Rio de Janeiro e se alastra, felizmente em menor grau, por todo o País.
Esta é, basicamente, a opinião manifestada pelo especialista em segurança pública, antropólogo, doutor em Ciência Política e ex-secretário nacional de Segurança Pública Luiz Eduardo Soares, em longa e percuciente análise da atual crise carioca postada em seu blog.
Partindo do princípio de que “nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança”, afirma Soares: “Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico (…) nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.”
Diante, então, da questão concreta de saber “o que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas”, Soares, com o conhecimento de causa de quem foi também coordenador de Segurança, Justiça e Cidadania do Estado do Rio, não usa meias palavras: “Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos “arregos” celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos.”
Assim, a polaridade imaginada entre polícia e tráfico “esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade”.
Construir efetivamente essa polaridade, “isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia, teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome”, uma vez que “não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes”.
Certamente, uma perspectiva sombria.
Que se agrava quando se atenta para uma obviedade singela, geralmente negligenciada: drogas só são vendidas porque há quem as compre.
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