sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Battisti e a consciência moral

“Ao mesmo tempo que a percepção do real, a
ideologia suspende o exercício da consciência moral”
(Jean –François Revel)

A democracia italiana sobreviveu ao duplo ataque dos terrorismo de direita (terrorismo nero) e de esquerda (terrorismo rosso) nos anos 70, conhecidos como anos de chumbo, sem se afastar do estado de direito.
O parlamento, os partidos, a justiça, a imprensa e todas as instituições continuaram funcionando apesar da ferocidade dos ataques extremistas.

A insanidade política teve conseqüências funestas e deixou cicatrizes profundas na sociedade italiana.
O assassinato do primeiro ministro democrata-cristão Aldo Moro por desatinados militantes das Brigadas Vermelhas e o massacre provocado por uma bomba jogada na estação ferroviária de Bolonha, vitimando 82 inocentes, por organizações de extrema direita, se tornaram a simbologia sinistra de toda uma época.

Grupos extra-parlamentares optaram pela luta armada e pelo ação terrorista para evitar que a Democracia Cristã, partido hegemônico no poder desde o final da II Guerra Mundial, e o Partido Comunista Italiano, então em pleno processo de revisão de seus princípios históricos, e já tendo optado pela democracia como valor universal, levassem adiante o “compromisso histórico” que lhes permitiria coabitar no governo.

O “compromisso histórico” era a negação de todo o fabulário ideológico alimentado por esses grupúsculos políticos, uns inconformados com a falência estrepitosa do modelo socialista e saudosos da ditadura do proletariado, e outros inconformados com o final do “vintennio” fascista.
Por isso se armaram e cometeram atrocidades contra a sociedade democrática italiana.

Césare Battisti é um filhote típico dessa época de fúria. Militante de um minúsculo grupelho de lunáticos chamado (PAC) “Proletários Armados pelo Comunismo”, foi condenado à revelia à prisão perpétua pela participação em 4 assassinatos.

O resto da história é conhecido: asilou-se na França acolhido por Mitterand, teve o asilo cassado no governo Chirac, fugiu para o México e depois internou-se no Brasil, onde se formou uma torcida organizada a seu favor, chefiada pelo então ministro da Justiça Tarso Genro, que ignorou um parecer do Conare (organismo que avalia pedidos de asilo político) e resolveu dar-lhe guarida como perseguido político e conseguiu convencer o governo a confrontar o pedido de extradição feito pelo governo italiano.

Ao negar a extradição, o Brasil está não só atribuindo-se o direito de colocar em dúvida a democracia e os tribunais italianos, como a fazer um julgamento histórico depreciativo e ofensivo à forma como o estado de direito italiano enfrentou a ofensiva insana do terrorismo sem sacrificar as suas instituições.
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Sandro Vaia é jornalista.
Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”.
É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez.

E.mail: svaia@uol.com.br

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