As promessas que Dilma já não cumpriu e as que ela não vai cumprir
Por Reinaldo Azevedo
A Folha deste domingo trouxe uma reportagem impressionante de Gustavo Patú sobre “os governos” Dilma.
Escrevo, assim, no plural porque, afinal, eu acreditei no que ela e Lula disseram durante a campanha: ela governou com Lula, foi a grande gerente, no tempo em que ainda não havia virado “rainha”.
Antes que comente o texto de Patú, algumas considerações sobre jornalismo.
Antigamente, um texto com esses dados seria candidato a manchete.
A Folha escolheu a crise no Egito.
*
Atrasos herdados da administração anterior e a necessidade de cortar investimentos para equilibrar as contas do governo ameaçam algumas das principais promessas da campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff.
Acho que a expressão “administração anterior” dá um viés excessivamente “despolitizante” ao texto.
Não há “administração anterior” no sentido político da expressão, certo?
O eixo da campanha eleitoral é que passaríamos do governo Lula-Dilma para o governo Dilma.
Como vocês verão, não são só as promessas de campanha que estão ameaçadas.
A agora presidente Dilma, quando ministra Dilma, não entregou o que prometeu.
Manter em dia o cronograma de realizações significa construir, só neste ano, 3.288 quadras esportivas em escolas, 1.695 creches, 723 postos de policiamento comunitário, 2.174 Unidades Básicas de Saúde e 125 Unidades de Pronto Atendimento, além de centenas de milhares de moradias subsidiadas para a população de baixa renda.
Vejam com é fácil fazer obra com saliva no horário eleitoral gratuito, que nós pagamos…
As metas constam do planejamento oficial que embasou a elaboração do Orçamento deste ano - até hoje não sancionado pelo Planalto, o que reduz a virtualmente zero a possibilidade de liberar dinheiro público para novos projetos.
É preciso combinar dois objetivos: o fiscal - bloquear despesas e elevar os recursos para o abatimento da dívida pública, desde 2009 abaixo do prometido - e o gerencial - encerrar a lista de obras e projetos prioritários inacabados, grande parte deles coordenados pela própria Dilma nos tempos de ministra-chefe da Casa Civil.
Como se nota, uma informação relavantíssima está aqui, devendo, quem sabe, num texto mais adequadamente “politizado” e “politizante”, estar lá no alto.
As promessas eleitorais e as previsões orçamentárias foram feitas ignorando-se tudo o que não foi entregue.
E não é pouca coisa.
Em um cenário de recursos escassos, as obras já em curso ganham primazia, como já indicaram a Fazenda e o Planejamento.
O exemplo de maiores proporções é o da segunda etapa do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
Há R$ 12,7 bilhões autorizados no Orçamento de 2011 para a iniciativa.
Mas, ainda que escape dos cortes a serem anunciados até março, a verba terá de acomodar também R$ 9,5 bilhões em despesas que ficaram por ser executadas da primeira etapa do Minha Casa - na qual as moradias efetivamente concluídas não chegaram a um quarto do 1 milhão contratado no papel.
O “não chegam a um quarto”, que eu saiba, significa algo em torno de 15%.
Vale dizer: Lula e Dilma prometeram entregar um milhão de casas e deixaram de cumprir 85% do prometido.
Na campanha, dobraram o delírio: 2 milhões.
Isso quer dizer que, até 2014, Dilma terá de construir os dois milhões de casas da campanha eleitoral e as 850 mil do mandato passado…
O mesmo acontece com as novas Unidades de Pronto Atendimento.
Os recursos reservados para iniciar as 500 UPAs programadas até 2014 terão de disputar espaço com a conclusão das outras 500 que deveriam ter sido entregues até 2010.
Você pode não ter entendido direito, então vou destacar: o governo Lula havia prometido entregar 500 UPAs até 2010. Entregou 91 — 18%.
Tendo Dilma prometido mais 500, então está devendo agora 909!!!
Sintomaticamente, a bancada governista no Congresso ajudou a promover, sem alarde, um corte de 15% nos recursos para as UPAs e a construção de postos UBS (Unidades Básicas de Saúde) durante a tramitação do projeto de lei orçamentária.
Vocês não cansaram de ver o povo feliz nas UPAs da Dilma, certo?
Maior ainda, de quase 35%, foi a redução da verba para a construção e adequação de quadras esportivas nas escolas de ensino médio, ação também classificada como prioritária, incluída no PAC 2 e repetida na campanha eleitoral.
Outro complicador é que todas essas metas - incluindo a construção de creches e de postos de policiamento - dependem da participação de governos estaduais ou prefeituras para elaboração de projetos, cessão de terrenos e custeio das unidades.
Pois é, essas são dificuldades que não apareceram agora e que sempre fizeram parte da equação.
A creche serviu de mote para João Santana vender Dilma como a “mãe do Brasil”, depois que ele foi governado pelo pai.
Como não existe a grana, o marqueteiro decidiu transformar a “mãe” na rainha da Inglaterra.
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