Importação de produtos de alta e média tecnologia quase triplica em seis anos
Marcelo Rehder, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - A indústria brasileira perde espaço em ritmo acelerado para produtos importados nos setores mais dinâmicos da economia nacional.
Nos últimos seis anos, quase triplicou a importação de produtos do chamado grupo de média- alta tecnologia, que inclui de veículos automotores e outros equipamentos de transporte a eletroeletrônicos, máquinas e equipamentos.
Um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), entregue há cerca de duas semanas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mostra que o consumo desses itens deu um salto de 76% entre 2004 e 2010, mas a produção local cresceu só 40%.
E a diferença foi suprida por importações, cujo crescimento atingiu 177% nos seis anos.
A situação é agravada pelo desempenho no grupo de produtos de alta tecnologia, que em boa parte já é dominado pelos importados.
"Todo mundo fala que a indústria está indo bem, mas precisa ver de qual indústria está se falando", diz o presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto.
O real valorizado encarece as exportações ao mesmo tempo em que torna as importações mais baratas.
Com os custos da produção pressionados para cima pela carga tributária, logística, energia e mão de obra, entre outros fatores que compõem o chamado custo Brasil, as empresas alegam não ter como competir com os importados.
Para manter parte do mercado, os fabricantes locais importam componentes e até produtos totalmente fabricados no exterior.
"Os setores de média-alta e alta tecnologia estão sendo desindustrializados", afirma o diretor do Departamento de Competitividade, Economia e Estatística da Abimaq, Mário Bernardini, responsável pelo estudo.
Para ele, a situação é dramática porque a perda de competitividade faz com que as empresas deixem de ganhar dinheiro, pois têm de baixar seus preços para competir com os importados.
O que à primeira vista parece favorecer o consumidor.
"A questão é que, baixando o lucro, a empresa não tem dinheiro para investir e vai ter de importar ou fechar as portas", frisa Bernardini.
Um exemplo é o da indústria de material eletrônico, em que a importação dobrou em seis anos e já responde por 56% do consumo brasileiro.
"Com uma rentabilidade baixíssima e sentindo que o preço de venda tem chance de cair ainda mais, quem vai querer se arriscar a investir?
É preciso ter retorno para haver investimento", diz o presidente da Câmara Setorial de Ferramentaria e Modelação da Abimaq, Alexandre Mix.
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