Quando alguma matéria trata de questões sociais não consigo deixar de lembrar das mais ilustres personalidades que tanto se dedicaram a essas causas, de verdade, não apenas com discursos, usurpação da obra alheia ou conversão de última hora.
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Se tivéssemos que sintetizar a ideia presente em toda ação social de organizações criadas por Ruth Cardoso, diríamos que para ela não há excluídos.
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É praticamente impossível falar de Ruth Cardoso sem usar, de maneira automática e recorrente, a palavra “ideia”.
A professora foi uma mulher discreta, mas com o pensamento em ebulição.
Como antropóloga, dedicou-se a temas aparentemente díspares, como imigração japonesa em São Paulo, questão da mulher e movimentos sociais urbanos -mas que tinham como foco os seus sujeitos, da forma como eram e se sentiam, sem que para isso fosse preciso classificá-los ideologicamente.
A reflexão teórica e a experiência das pesquisas em campo que a tornaram acadêmica respeitada em todo o mundo tiveram ainda mais razão de ser quando Ruth Cardoso se viu no (para ela) incômodo posto de primeira-dama do Brasil.
Não demorou para que aceitasse aquela condição, aproveitando a oportunidade para colocar em prática suas ideias.
Numa época “pré-3 de outubro”, em que números são divulgados para impressionar, não nos cabe aqui apresentá-los, mesmo sendo de fato impressionantes.
Mas nunca é demais ressaltar a força fundamental de pensamento independente como o de Ruth Cardoso na configuração das ações sociais e políticas públicas empreendidas a partir de 1995, até hoje.
Talvez tenha sido muito oportuno começar pelo uso do conceito de solidariedade, que parecia cristalizado pelas campanhas eclesiásticas, mas que com ela tomou uma nova forma (para não falar de uma nova ideia…) que não a da caridade, muito menos a do assistencialismo, mas a do fazer coletivo.
O que Ruth Cardoso imaginou e fez foi encontrar uma forma de ação social inovadora que ocupasse o vazio entre sociedade civil e Estado.
Criou a Comunidade Solidária como uma espécie de intermediadora entre governo, sociedade civil e terceiro setor e de articuladora de parcerias (não só financiadoras) para a execução de ações que, até hoje, quando relatadas, ainda são inovadoras no Brasil e no mundo.
E se, quando falamos de “parcerias”, “terceiro setor” e “participação da sociedade civil”, esses conceitos parecem banais e inflacionados, a culpa é de Ruth Cardoso, e agradecemos a ela por isso.
Assim como não cabe citar números, é difícil falar das ações, pois foram diversificadas -abrangentes e específicas a um só tempo.
Se tivéssemos que sintetizar a ideia presente em toda ação social ainda hoje praticada nas organizações criadas por Ruth Cardoso, diríamos que para ela não há excluídos.
Em alguma parte ou lugar hão de estar incluídos, e cabe estimular esse capital social, abrindo-lhe oportunidades de empoderamento, de uso da própria criatividade em favor de soluções empreendedoras que podem, e podem mesmo, ser potencializadas em alto grau.
No momento em que a professora completaria 80 anos, o Centro Ruth Cardoso abre suas portas com instalações novas, decorrentes de uma reforma que mobilizou parceiros que acreditam na sua missão: preservar a memória e a obra acadêmica e social de sua titular, assim como disseminar conhecimentos das áreas ligadas às políticas sociais e às ciências humanas, a fim de tornar-se armazém, produtor e difusor de novas ideias.
Ao Centro Ruth Cardoso, produtor e disseminador do conhecimento, cabe difundir essas ideias e seguir adiante, mirando e seguindo o exemplo deixado: ela própria, que não conseguia não olhar para a frente.
Mas cabe também, como preservador de sua memória, lembrar a vida e a trajetória histórica de Ruth Cardoso, um nome essencial para o passado, o presente e o futuro do Brasil.
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MANOEL FÉLIX CINTRA NETO e REGINA CÉLIA ESTEVES DE SIQUEIRA são, respectivamente, presidente e superintendente-executiva da AlfaSol, mantenedora do Centro Ruth Cardoso.
PSDB-MULHER
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