sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Trem-bala para as reservas

Celso Ming

As reservas externas ultrapassaram dia 12 os US$ 290 bilhões, anunciou nesta quinta-feira o Banco Central.
Provavelmente ainda no primeiro trimestre chegarão aos US$ 300 bilhões.

Não dá mais para sustentar a alegação de que o Banco Central segue empilhando reservas para blindar a economia contra crises.

A montanha de reservas impõe custos, cada vez mais altos.
Custam a cada ano o que custará o trem-bala para o País.


Acompanhe os cálculos:

Para cada US$ 100 lançados nas reservas, o Banco Central tem de aumentar a dívida pública no equivalente a R$ 167.

(Esse despejo de títulos aumenta a dívida bruta; não eleva a dívida líquida porque no outro prato da balança há o ativo em reservas.)
Essa emissão de dívida é necessária para retirar do mercado os reais usados na compra dos dólares.
É a operação de esterilização da emissão de moeda, como dizem os técnicos.

Para sustentar reservas de US$ 290 bilhões, o Banco Central mantém no mercado R$ 485 bilhões em títulos.
Os US$ 290 bilhões em moeda estrangeira comprados pelo Banco Central e aplicados no mercado internacional rendem mais ou menos 2% ao ano, o que dá US$ 5,8 bilhões ou R$ 11,4 bilhões.

Em contrapartida, o País tem de pagar pelos R$ 485 bilhões da operação de esterilização juros de 10,75% ao ano, o que implica despesa de US$ 31,2 bilhões ou R$ 52,1 bilhões.

A diferença entre o rendimento das reservas e os juros pagos em reais para mantê-las é de US$ 24,4 bilhões ou R$ 40,7 bilhões, volume equivalente às projeções dos custos de construção do trem-bala.

Pergunta crucial: vale a pena gastar tanto para ostentar reservas desse tamanho?
Alguém poderia responder: é claro que vale, porque as compras de dólares evitam uma derrubada maior das cotações do dólar no câmbio interno.
Certo?
Provavelmente, não.
Porque esse tamanho das reservas também é fator importante de atração de dólares, na medida em que aumenta a percepção de solidez da economia e foi razão definitiva para que o Brasil conquistasse grau de investimento para sua dívida.
Se tivesse apenas US$ 50 bilhões em reservas, volume existente ao final de 2005, o Brasil teria o afluxo de moeda estrangeira que tem hoje?
É claro que não.

Ninguém sabe se o trem-bala será aprovado, porque seu custo é tão alto que inviabiliza qualquer tarifa.
Por que esse raciocínio não vale para as reservas externas?

Íntegra na Coluna do Ming, no Estadão.

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