HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO - Poluição
O vale da morte
O dia 24 de maio de 1992 entrou para a história do município.
Nessa data, Cubatão festejou o fim de um bairro e o início de um novo ciclo.
Foto de João Vieira
A Vila Parisi é riscada do mapa de Cubatão
Manuel Alves Fernandes
Da Sucursal de Cubatão
Novo Milênio
Cubatão ocupava as manchetes dos principais órgãos de comunicação do planeta por causa do Vale da Morte - ou seja, a Vila Parisi.
A história desses tempos ficou para trás.
O bairro muda de nome depois que o então prefeito assinou um decreto que incorporou essas glebas à área industrial.
A vila passou a chamar-se Centro Empresarial Vale da Vida.
A reação começou em 1984, durante o Governo Franco Montoro.
Esboçavam-se as primeiras tentativas de remover os moradores da Vila Parisi.
Aos anencefálicos, juntava-se uma nova categoria de doentes; os mais de 3 mil trabalhadores de Cubatão que estavam leucopênicos, por causa de vazamentos da coqueria da Cosipa.
Em fevereiro de 1985, depois de um longo período de chuvas fortes, o rompimento de um amonioduto da Ultrafértil a menos de dois quilômetros da Vila Parisi obrigou as autoridades a removerem todos os moradores, por cautela.
Poucos dias depois, decretou-se o fim oficial da Vila Parisi e propôs-se a remoção dos moradores, progressivamente, para o Bolsão Oito, na interligação Anchieta-Imigrantes.
Franco Montoro mandou o presidente da Cetesb, Werner Zulauf, comandar a recuperação ecológica de Cubatão.
Com o apoio da comunidade, dinheiro financiado do Banco Mundial e conscientização de indústrias, os prefeitos Nei Serra e, posteriormente, José Osvaldo Passarelli, conseguiram mudar para o Jardim Nova República os antigos moradores da Vila Parisi.
A Cetesb identificou 320 fontes de poluição das indústrias e programou, progressivamente, a instalação de filtros e aparelhos redutores.
Foram gastos US$ 450 milhões para controlar 91% dessas fontes.
O programa iniciado por Montoro teve continuidade no Governo Quércia e atingiu a estabilidade no Governo Fleury.
No período de 86 e 87, mais de mil famílias foram transferidas para o Jardim Nova República, conjunto habitacional construído pela Prefeitura de Cubatão defronte à interligação Anchieta-Imigrantes.
De Vale da Morte, a Vila Parisi se transformou no Vale da Vida, deixando para trás a imagem de miséria e abandono que foi até então a sua principal característica.
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José Batista de Santana, morador, cantava a sua versão da Despedida da Vila Parisi.
Não volta -
"Adeus à Vila Parisi e ao povo que fica aqui/
Trinta anos que eu morei, só fez me divertir.
Uma horta que eu plantei, pouca coisa eu colhi./
Os ladrões comeram tudo, pouca coisa eu comi.
Deixamos a coisa de lado, nessa mesma ocasião.
Despedindo do povo todo, pegando de mão em mão.
Peguei a minha bagagem e pus no carro do patrão./
Viva o prefeito Nei Serra, que nos tirou da poluição".
José Batista de Santana mudou-se para o Conjunto Habitacional Humaitá, em São Vicente.
Fez questão de deixar os versos com os funcionários da Cursan:
"Salve João Carlos, os funcionários da Cursan/
Eles, junto com Adelina, nos tiraram da poluição.
Nós estamos fora daqui, estamos com a saúde nas mãos.
Só se vê terraplenagem, nesse belíssimo torrão.
Quem tá fora só vê, tá parecendo sertão.
Adeus à Vila Parisi, nós não volta aqui mais não".
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O secretário municipal de Meio-Ambiente, Raul Christiano Sanchez, sugeriu ao prefeito que esses versos fossem gravados em uma placa a ser colocada no antigo Vale da Morte.
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