sábado, 12 de fevereiro de 2011

Depois da farra vem a ressaca

O ‘gastador’ Mantega agora tem de fechar o cofre
Adriana Fernandes, de O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O ministro da Fazenda é o mesmo, mas o Guido Mantega do governo Dilma Rousseff ainda não consegue convencer o mercado das intenções apregoadas.
Está no meio de um debate cruzado e com medo de virar o ministro que pode derrubar o crescimento da economia.

Ajuste de verdade.
Com a obrigação de enfrentar a pressão da inflação herdada do governo Lula, Mantega está sendo cobrado para fazer um ajuste fiscal de verdade, e não os R$ 50 bilhões anunciados na quarta-feira passada - quase 40% são cortes de emendas dos parlamentares.

Ambiguidades.
No cenário de debate contido, Mantega começa a amplificar publicamente as ambiguidades do discurso cotidiano.
Em uma semana negocia com empresários a desoneração da folha de pagamentos e novas medidas de estímulo setorial.
Dias depois, anuncia cortes no Orçamento e coloca em banho-maria a discussão sobre as desonerações.

Nos bastidores, alguns integrantes da equipe econômica dizem que para cada desoneração haverá uma nova tributação.
É a política do cobertor curto: para abrir mão dos impostos sobre a folha de pagamentos terá de haver uma reposição da arrecadação.

Traduzindo: liberar com uma mão e cobrar um novo tributo com a outra.

"Gastador".
Além do constrangimento no combate à inflação, Mantega carrega outro fardo: a desconfiança que o "ministro gastador", responsável por sancionar uma política de aumento recorde de despesas durante o governo Lula, levanta diante de tantas incertezas quanto à manutenção do superávit primário em níveis adequados para um País com dívida pública interna na casa do R$ 1,7 trilhão.

Mantega sempre combateu a fama de "gastador" com o discurso da garantia de cumprimento das metas fiscais.
Usou e abusou dessa ambiguidade, mas no fim do ano se rendeu à realidade: só conseguiu fechar as contas públicas com o superávit prometido - 3,1% do PIB - recorrendo a artifícios contábeis.
Fez 2,78% e precisou completar abatendo da meta despesas do PAC.

Diante de uma inflação em alta, a batalha do ministro, que precisa passar credibilidade, é para fazer de 2011 o ano de ajuste fiscal.
E agora Mantega chama o controle de gastos de "consolidação fiscal".

Durante a campanha eleitoral, a então candidata Dilma Rousseff prometeu não fazer o ajuste fiscal em "hipótese nenhuma".

Mudança de roteiro.
A mudança nos roteiros e discursos da presidente da República e de Mantega é atribuída ao novo momento econômico.
Enquanto isso, um desconfortável Mantega exercita a prática do equilibrismo.

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