Por Reinaldo Azevedo
A tolice de supor que Dilma é estrela de uma “glasnost” petista.
Ou: quando o crime compensa
A presidente Dilma Rousseff é tratada por alguns analistas como se fosse a protagonista de uma “glasnost” petista.
Se Lula flertava com mecanismos de censura à imprensa, a ela se atribui o repúdio a qualquer iniciativa nesse sentido; se Lula dava o braço a tiranos do mundo inteiro, ela diz que a política de direitos humanos é central no seu governo; se Lula era um gastão, ela acena com corte de R$ 50 bilhões — corte que não ocorrerá, mas vá lá: ainda que ocorresse, o Orçamento de 2011, mesmo assim, seria quase 10% maior do que o do ano passado; se Lula era falastrão e autocentrado, ela é econômica nas palavras e pensa no conjunto; se Lula, enfim, era um ignorante intuitivo, ela é uma letrada racional.
Bem, assim seria se assim fosse.
Mas vocês sabem que essa é a fantasia que anda por aí, o que leva muita gente a se dizer “surpresa com o desempenho de Dilma.
Quero chamar a atenção de vocês para algo importante: essa “glasnost” — que é, obviamente, mentirosa — convive com o brutal fortalecimento do PT no governo Dilma.
O partido é muito mais poderoso agora do que era sob Lula e tem sabido trazer os aliados em rédeas relativamente curtas.
O PMDB dá um pouco mais de trabalho, mas o fato é que também ele perdeu poder no terceiro mandato do PT, embora tenha o vice-presidente da República.
Desde que chegou ao poder em 2003, a máquina partidária nunca foi tão forte com é agora e nunca esteve tão presente na administração.
Essa é uma das evidências de que a “glasnost” dilmista é conversa para enganar jornalistas e cineastas — uma boa parte deles ao menos.
Mas não é a única.
O PT está num franco movimento para reintegrar Delúbio Soares, o tesoureiro que virou símbolo do mensalão.
Com efeito, houve certa injustiça em transformá-lo no bode expiatório: os crimes nunca foram apenas seus. Ele era um funcionário do partido e agia segundo as ordens da cúpula partidária, de que Lula sempre foi o chefe inconteste.
A reinserção de Delúbio no partido vem junto com a afirmação canalha de que o mensalão nunca existiu.
Tudo teria sido uma conspiração das oposições com a mídia para depor o governo Lula. Agora é Marco Maia (RS), presidente da Câmara, quem pede a volta do velho companheiro.
O julgamento do mensalão no STF deve ficar para o ano que vem.
Até lá, o partido espera que a negação da história ganhe mais adeptos.
É claro que o petismo não articula a volta de Delúbio só para ser justo e generoso com o companheiro.
Essa Dilma “menos petista” que setores da imprensa inventaram — reitero: é uma construção falsa; basta ver quantos cargos ela deu ao partido — serve perfeitamente aos propósitos de “reunificação” do PT, recolhendo os companheiros que tiveram de ficar pelo caminho.
É como se ela fosse uma coisa — a “rainha”, lembram-se? — e o partido, outra, de sorte que decisões polêmicas da legenda não guardariam qualquer intimidade com a administração.
Assim seria se assim fosse; assim seria se o governo federal, as autarquias, as estatais, as fundações e os fundos de pensão não estivessem coalhados de companheiros — companheiros de Delúbio.
Inexiste uma “glasnost” petista, com Dilma no lugar de Gorbatchev, e Lula como estrela da Velha Guarda.
Isso é de uma bobagem monumental.
Tirados o glacê e as construções da marquetagem, o que se tem é o contrário: o PT nunca teve tal domínio da máquina pública e nunca esteve tão disposto a chamar de virtudes os seus crimes.
Se alguma dúvida ainda houvesse, ela se dissiparia assim: Jeter Ribeiro de Souza, ex-gerente da Caixa Econômica que acessou ilegalmente o sigilo do caseiro Francenildo Costa, foi nomeado assessor especial de Dilma.
O nome do cargo: “Assessor do gabinete-adjunto de Informações em Apoio à Decisão da Presidente.” Uau! Quem assinou a nomeação foi a Casa Civil, cujo chefe é Antonio Palocci, que era o único interessado na quebra daquele sigilo.
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