No meio dessa bagunça que junta Partido dos Trabalhadores com coronéis, transforma grandes empresários em socialistas, oposição elogia o governo, coloca-se comunistas na direita e conservadores na esquerda, o jornalista Reinaldo Azevedo apresenta um texto impecável com o título "Um Brasil com menos direita é, necessariamente, um Brasil com menos direitos".
Vejam trechos que tratam dos aspectos relevantes para a busca da identidade perdida neste início de século, como diz o jornalista, o processo político brasileiro optou pela geléia-geral: qualquer um pode ser qualquer coisa a depender das circunstâncias.
Íntegra AQUI.
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O DEM elege amanhã a sua nova direção.
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, já está praticamente fora da legenda.
Vai criar o tal PDB, Partido Democrático Brasileiro.
O DEM vai ficar ainda menor.
Mais: tudo caminhando conforme o planejado, o DEM que restar estará majoritariamente atrelado ao projeto presidencial do senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Esvai-se qualquer ambição de ter uma identidade.
O que eu acho?
O conjunto da obra empobrece a política e torna o Brasil, de fato, uma jabuticaba entre as nações democráticas.
Não há um só país relevante — na verdade, nem irrelevante — que não tenha um partido conservador forte, em condições de disputar o poder com a esquerda ou centro-esquerda.
Até protoditaduras como a Venezuela e a Nicarágua contam com campos ideológicos mais marcados.
Tomo a mudança como um emblema da dificuldade que existe no Brasil de defender idéias e princípios que são corriqueiros em qualquer democracia.
NÃO TEMOS UM PARTIDO RELEVANTE QUE DECIDA CONFRONTAR O GIGANTISMO DO ESTADO PORQUE NÃO TEMOS FORÇAS POLÍTICAS RELEVANTES QUE VEJAM NISSO UM PROBLEMA, ENTENDEM?
E esse é um dos fatores do nosso atraso, porque se cria a cultura da dependência estatal e da pouca valorização do indivíduo e de seus direitos.
Boa parte dos brasileiros nem mesmo se vê como pagadora de impostos — impostos pagos também pelos pobres; aliás, proporcionalmente, eles pagam até mais do que os ricos.
Ao estado e ao governo se permite tudo.
No Estadão de hoje, uma reportagem de Vera Rosa:
“A presidente Dilma Rousseff está convencida de que é preciso trocar o comando da mineradora Vale, mas quer blindar a companhia do apetite político para não causar turbulência no mercado nem impacto nas ações da companhia na Bolsa de Valores. Agnelli não quer sair e a Vale está em boa situação: é líder mundial na produção de minério de ferro e, no ano passado, atingiu o segundo maior lucro da história entre as empresas de capital aberto (R$ 30,1 bilhões), só perdendo para a Petrobrás.”
O que há de absolutamente escandaloso no que vai acima?
A Vale é uma empresa privada!
Desde quando cabe ao governo decidir quem deve comandá-la?
Ocorre que os fundos de pensão das estatais — Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), Funcef (dos da Caixa Econômica Federal) e Petros (dos da Petrobrás) — detêm uma boa fatia da empresa, e o governo de turno manda nos fundos porque são controlados pelo PT!
Uma interferência como essa — e não estou aqui a defender Agnelli, que nem conheço! — deveria causar o repúdio das instituições e entes que defendem princípios republicanos, a começar da imprensa.
Mas até esta, com as famosas exceções de praxe, condescendem com um governo e com um estado que exorbitam de suas prerrogativas com impressionante ligeireza.
Chegamos ao ponto em que grande empresas podem entregar a cabeça dos seus executivos para satisfazer caprichos da burocracia de turno.
Essas coisas não acontecem sem custo para o país.
Esse estado que pode tudo pode qualquer coisa, legal ou ilegal, lícita ou não.
Se acerta, muito bem.
Se erra, não tem nada além do silêncio cúmplice.
UM PAÍS QUE NÃO TEM UM PARTIDO LIBERAL, APEGADO À DEFESA DOS DIREITOS INDIVIDUAIS, EMPENHADO EM CONTER O APETITE DO ESTADO, É SINTOMA DE UMA SOCIEDADE QUE DESISTIU DE DEFENDER SEUS DIREITOS OU QUE, PIOR, IGNORA OS DIREITOS QUE TEM.
Assim como a cultura nasce da domesticação da natureza, a democracia nasce da domesticação do estado.
Há quem prefira o estado domesticando permanentemente os indivíduos…
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