Para que serve a imagem da “Dilma de oposição”?
Por Reinaldo Azevedo
Um estrangeiro que ignorasse a realidade política brasileira e conseguisse, ainda assim, ler a nossa imprensa poderia ficar com a impressão, obviamente falsa, de que a sucessora de Lula, Dilma Rousseff, foi eleita por um partido de oposição a Lula.
Ao controle da mídia que Lula defendia, por exemplo, Dilma diz preferir só o controle remoto, e seu ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, flerta com a hipótese de haver “muitas besteiras” no texto preparado na gestão anterior.
Se vitorioso, é provável que José Serra caminhasse por aí — e a esquerda botaria a boca no trombone.
Na política externa, fala-se numa verdadeira guinada.
O Itamaraty deixou claro que não quer papo com Kadafi, por exemplo — chamado por Lula de “irmão” e “líder”.
Mas há operações bem menos corriqueiras.
O governo anunciou a disposição de economizar nada menos de R$ 6,5 bilhões em supostas fraudes no pagamento de salário e benefícios.
Só no seguro-desemprego, pretende-se chegar a R$ 3 bilhões — 10% do montante inicialmente previsto.
Chamem a Polícia Federal!
É um despropósito!
Fosse o governo de um adversário de Lula, a isso se poderia classificar de “devassa”!
A “herança maldita” a ser vencida pela “oposicionista” Dilma não se esgota aí.
Como informou o Estadão desta quarta, “o bolo de despesas iniciadas em 2010 cujo pagamento ficou para este ano, os chamados restos a pagar, foi muito grande: R$ 128,8 bilhões.
Esse valor não aparece no Orçamento.
Ou seja, o corte não o afetou, e ele continua exercendo pressão sobre o caixa”.
E aí?
Arno Augustin, secretário do Tesouro, informa que só pretende quitar R$ 41,1 bilhões em atrasados.
As demais despesas serão canceladas.
Trata-se de um calote do governo Dilma aplicado nas contas do governo anterior.
O dado quase ausente desse debate — e, por isto, aquele leitor desavisado teria uma visão distorcida da realidade política — é que a herança recebida pelo governo Dilma vem do… governo… Dilma!
Dilma não joga o peso dos desacertos nos ombros de Lula para se livrar da responsabilidade que lhe cabe — ela não tem força para isso.
Esse discurso só funciona no ambiente relativamente restrito do noticiário um tantinho mais especializado.
Ajuda a fazer a fama, entre os formadores de opinião, da “presidente austera”:
- “Viram? Ela é mais severa com os gastos do que Lula!”
- “Viram? Ela gosta de liberdade de imprensa mais do que Lula?”
- “Viram? Ela é mais dura na defesa dos direitos humanos do que Lula!”
Dilma ser lulista faz a sua fama entre milhões; Dilma ser, a seu modo, antilulista faz a sua fama entre algumas centenas…
Ninguém ignora que há franjas do eleitorado lulista que Dilma, por conta própria, jamais terá.
Tudo bem!
O objetivo, neste momento, é conquistar as franjas do eleitorado que Lula nunca teve.
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