O tamanho do Estado, no Brasil, faz com que o Congresso seja um ajuntamento de negociantes
Por Reinaldo Azevedo
Já escrevi aqui que considero razoável e esperado que o governo cobre fidelidade de sua base de apoio etc e tal.
Mas há modos e modos de fazê-lo.
Antes que entre nessa especificidade, cumpre fazer uma digressão sobre o que se entende por “base de apoio” no Brasil.
Os Estados Unidos têm dezenas de partidos, mas só dois contam: o Democrata e o Republicano.
Alternam-se no poder.
Têm, sim, muitas diferenças entre si e as exercem com clareza.
Por lá, governo é governo, e oposição, oposição, o que não quer dizer que o partido que está no poder funcione como ordem unida.
Obama teve de negociar o seu programa de Saúde mais com os democratas do que com os republicanos.
Os esforços para fechar Guantánamo — de qualquer modo, não teria dado mesmo — encontraram resistência também numa ala muito organizada dos… Democratas.
Como Obama poderia retaliar a sua base?
Não podia!
O que isso quer dizer?
Nos EUA, o Executivo tem o seu domínio, mas ele não se estende de maneira imperial sobre o Parlamento.
Aliás, é comum os analistas dizerem sobre esta ou aquela pretensões presidenciais: “Isso não passaria no Congresso”.
O que está na raiz dessa independência?
Resposta: o tamanho do Estado!
Como é pequeno, como não tem um penca de estatais e autarquias para distribuir cargos e manipular verbas públicas, os congressista se atêm à sua tarefa de representação.
“Ah, falam em nome de lobbies!”
E daí?
Os nossos parlamentares, por acaso, representam só idéias caídas do céu?
Ora…
Esse atrelamento do Legislativo ao Executivo, por aqui, é uma perversidade: distorce a democracia.
O governo usa os milhares de cargos de que dispõe não para compor uma sólida frente e, enfim, aplicar o seu programa, mas para subordinar o Congresso.
A tal base vira um saco de gatos das mais variadas cores.
Não se tem debate, mas moeda de troca:
“Ou me obedece e vota como quero, ou perde o cargo”.
Ora, comparem: nos EUA, Obama teve de negociar com seus aliados no Congresso algumas de suas pretensões; no Brasil, do Parlamento, espera-se uma única coisa: que diga “sim”.
Acompanhem a humilhação de um partido da base aliada AQUI e AQUI.
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