Por Augusto Nunes
Lula comenta o que não leu, FHC dá o troco e a coluna reapresenta o convite para um debate ao vivo entre os ex-presidentes
Como nunca leu nada, é compreensível que Lula nem tenha tentado empreender a travessia das 5.481 palavras do texto do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o papel da oposição.
Como abre a boca sobre tudo que lhe parece eleitoralmente lucrativo, era previsível que o palanqueiro ambulante dissesse alguma coisa sobre o brilhante ensaio de FHC.
Mas de longe, e sem mencionar expressamente o nome ou a sigla do homem que está para o SuperLula como a kriptonita verde para o Super-Homem.
“Sinceramente não sei como alguém estuda tanto e depois quer esquecer o povão”, derrapou Lula em Londres.
Deveria ter ficado quieto.
“Ora, eu venci duas eleições com o voto desse povão.
E no primeiro turno, e contra o Lula”, deu o troco FHC.
“Agora, temos de ter uma estratégia para esses novos setores, mais sensíveis.
Temos de fincar o pé na internet e nas redes sociais”.
O ex-presidente aproveitou a chance para mais uma aula endereçada a oposicionistas trapalhões.
“É de doer que políticos da oposição deixem de lado o conjunto dos argumentos e das propostas que fiz no artigo e, antes de o lerem, façam coro ao petismo, colocando-me como um insensato que despreza o voto das parcelas mais desfavorecidas da população”, replicou Fernando Henrique.
“Fariam melhor se lessem com mais calma o que escrevi”.
É o que devem fazer imediatamente, demorando-se ao menos 10 segundos no lembrete feito já no segundo parágrafo:
“Cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo”.
Nas linhas seguintes, mais afinado do que nunca com a resistência democrática que age à margem dos partidos e do Congresso, FHC ensina que “o PT e o governo dispõem de poderosos meios em amplos setores das camadas pobres, mas cooptadas por movimentos sociais”.
E ressalva: “Também existe, é claro, um povão na nova classe média” ─ surgida, aliás, de programas sociais concebidos em seus dois mandatos.
Lembra que há um legado valioso a defender e desfralda bandeiras atualíssimas.
Traça com extraordinária lucidez, enfim, os caminhos que a oposição deve percorrer para “chegar aos ouvidos do povo”.
Quanto a Lula, chegou a hora de encerrar a desconversa, engavetar pretextos e desculpas, domar a insegurança, enjaular o medo e topar o convite, agora reiterado formalmente por esta coluna, para um debate com FHC.
Só os dois, além do mediador escolhido de comum acordo.
O site de VEJA está pronto para a transmissão ao vivo.
Várias emissoras de TV também têm interesse em participar da divulgação do duelo democrático.
Fernando Henrique acaba de repetir que aceita.
Só falta o sim do adversário.
Coragem, Lula.
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