Por Mary Zaidan
No blog do Noblat
Discriminação e privilégio são opostos que se atraem.
E com tamanha força que se tornam inseparáveis.
Como ovo e galinha, nunca se saberá qual vem primeiro, muito menos qual entre os dois exerce supremacia sobre o outro.
Se a discriminação endossa preconceitos e nega paridade entre iguais, o privilégio age em favor de uns sempre discriminando outros.
Portanto, não há como fugir: privilegiar é discriminar e vice-versa.
Mas o Brasil insiste em não enxergar isso.
Reincide e institucionaliza erros.
Da máxima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem o senador José Sarney não é “uma pessoa comum”, o que, implicitamente, lhe dá permissão para infringir leis, aos foros especiais que transformam políticos com mandato e ocupantes do primeiro escalão em seres quase intocáveis, tudo conspira em favor dos privilégios.
Até mesmo quando se quer combater a discriminação.
Iniciadas sob a égide do então presidente Fernando Henrique Cardoso e acatadas em universidades federais com velocidade vertiginosa durante o governo Lula, as cotas raciais são o exemplo mais bem acabado disso.
Em nome de atender aos que se declaram negros, criam-se privilégios que discriminam aqueles que não são negros nem se dizem pardos.
Jovens de outros matizes, brancos ou amarelos, pagam a conta.
Como tiro que escapa pela culatra, se a cor da pele continuar a valer mais do que o mérito, o risco é de se estimular o preconceito.
Não pela cor em si, mas pelo privilégio que ela confere.
Com as mulheres não é diferente.
De lutadoras aguerridas pela igualdade, parte delas passou a correr atrás de privilégios.
Na quinta-feira conseguiram mais um: a aprovação na Comissão da Reforma Política do Senado da ampliação da cota obrigatória de candidatas mulheres dos já injustificáveis 30% para absurdos 50%.
Isso depois dos resultados pífios da tal cota.
Instituída em 1988, não mostrou a que veio: em 1990, 25 deputadas, outras 33 em 1994, e 42 em 2002.
Em 2010, mesmo com uma candidata vencedora à presidência da República, só 45 deputadas foram eleitas, uma a menos do que em 2006.
Fora o aperto dos partidos que, para registrar suas chapas, caçam mulheres a laço.
Enfiam nas listas nomes que nada representam, mas que têm o direito de lá estar apenas pelo gênero.
Caberá ao Supremo Tribunal Federal decidir sobre a constitucionalidade das cotas raciais, julgamento previsto ainda para este semestre.
Quiçá será instado também a se pronunciar sobre as regalias eleitorais femininas.
A cada um de nós cabe avaliar se queremos conviver e estimular uma sociedade moldada em discriminações e privilégios.
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