Carlos Alberto Sardenberg - O Estado de S.Paulo
Considerem os problemas com os quais o governo Dilma lida neste momento: inflação e juros altos; aeroportos e infraestrutura da Copa, tudo atrasado; entrada excessiva de dólares e real muito valorizado; comércio desequilibrado com a China.
São heranças do governo Lula.
Claro que toda administração deixa coisas inacabadas para seu sucessor, mas trata-se aqui de algo mais.
Em seu mandato, Lula não avançou um passo sequer no aperfeiçoamento do modelo econômico.
E não foi capaz de ou não teve interesse em alterar as regras institucionais e o modelo de gestão que emperram as obras públicas no País.
Curioso: Lula não aceitou as propostas econômicas mais à esquerda, mas também não embarcou totalmente na ortodoxia.
Foi tocando uma coisa mista, deixando correr.
Precisaria enfrentar interesses, mas deixaria um legado precioso.
Preferiu, porém, apenas surfar na onda fácil.
Tome-se o modelo econômico. Lula tocou com o que recebeu de FHC, regime de metas, superávit primário, câmbio flutuante.
O sistema funcionou para domar a inflação e trazer os juros reais para algo entre 5% e 6% ao ano.
Mas já passou da hora de avançar e houve condições para isso.
Poderia ter sido iniciado um processo de redução de meta de inflação, que Lula recebeu com 4,5% ao ano e entregou assim mesmo.
Nos países emergentes, essa meta está em torno de 3% e o Brasil precisa caminhar para lá.
Só assim se poderia fazer uma reforma para eliminar o que resta de indexação na economia brasileira, aquele processo de correção automática de preços que joga para o futuro a inflação do passado.
(...)
Em resumo, acompanhamos a linha dos emergentes.
Mas esses emergentes já ostentam metas de inflação e taxas de juros menores do que as nossas.
Assim como investem mais.
À exceção da China, todos têm moedas valorizadas, mas o real brasileiro é mais valorizado por causa dos juros altos.
(...)
No caso das contas públicas, Lula também não definiu lado.
Manteve a Lei de Responsabilidade Fiscal (que define o sistema de superávit), mas aceitou uma série de quebra-galhos e manobras contábeis para aumentar o gasto e apresentar um superávit falso, de valor menor que o anunciado.
(...)
Ministros e outros funcionários disseram a Lula que, sem concessões privadas, as obras dos aeroportos não andariam.
O ex-presidente não quis se arriscar com essa "privatização", optou por mudanças administrativas na Infraero, que simplesmente não aconteceram.
Dilma está começando do zero.
Pode-se dizer que ela tem parte da culpa, porque estava na gestão anterior, em posição de mando.
É verdade.
Mas quem mandava era Lula, dele dependia a tomada de qualquer medida substancial.
E ele não tomou.
Foi na onda.
Agora, está tudo aí, mais complicado.
Íntegra AQUI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário