Autor(es): Xico Graziano
O Estado de S. Paulo - 19/04/2011
Hoje é o Dia do Índio.
Merecido.
A data ajuda a valorizar as origens da sociedade, provoca reflexão sobre o presente.
Difícil é descobrir o que guarda o futuro para os remanescentes indígenas.
Haverá espaço para eles na sociedade pós-moderna?
Talvez 5 milhões de nativos, ninguém sabe ao certo quantos, viviam no Brasil na época do descobrimento.
Distintamente da colonização espanhola na América Central, os portugueses aqui não atuaram para dizimá-los.
Longe do confronto, os índios mantiveram espírito colaborativo com os colonizadores.
Eram rudimentares e dispersos os índios brasileiros.
Viviam como na Idade da Pedra.
Ignoravam a faca e o anzol, nunca haviam visto uma galinha ou um cavalo, comiam mandioca, desconheciam a banana.
Não ergueram castelos nem usavam joias.
Esse "atraso" histórico os levou ao encantamento com as bugigangas tecnológicas trazidas pelos portugueses.
Sabe-se que as doenças europeias - gripe, sífilis, rubéola - causaram elevada mortandade nos povos originais das Américas.
A perda de territórios e a miscigenação também foram causas de decréscimo populacional.
Resultado: hoje se contam 460 mil índios nas aldeias, distribuídos entre 225 tribos.
As línguas originais, estimadas em 1.300, reduziram-se a 180 dialetos.
(...)
O núcleo da questão indígena não reside no tamanho da área que eles ocupam. Nem na recente, e controversa, demarcação de novos territórios, que avançam sobre terras agricultadas há décadas, particularmente em Roraima e em Mato Grosso do Sul.
O dilema, mais complexo, advém do papel destinado aos remanescentes indígenas na sociedade atual.
A dúvida parece ser eterna: é melhor mantê-los distantes, isolados, ou certo seria promover sua integração na sociedade?
Tutela ou suicídio étnico?
A prudência indica o caminho do meio.
Mas a rota é difícil.
Os vetores da modernidade, alimentados pela facilidade da comunicação, atingem em cheio as aldeias indígenas, afetando seus costumes e danificando sua cultura secular.
Levam, ao mesmo tempo, qualidade de vida e alcoolismo, televisão e prostituição.
Como se opor ao progresso?
(...)
Nós somos levados a ser condescendentes com os povos primitivos, talvez por buscarmos um subterfúgio que esconda as mazelas da sociedade atual.
Esse esconderijo mental, ultimamente, inventou que os indígenas seriam "ecológicos".
Um conceito idílico, falso.
Os tupiniquins foram grandes incendiários da floresta virgem, utilizando o fogo para abrir roça - a conhecida "coivara" - e encurralar a caça.
A devastação da floresta atlântica começou com a aliança entre portugueses e índios.
Juntos, com machado afiado, derrubaram todas as árvores de pau-brasil que conheciam.
Questionar a santidade dos antepassados explica parte do sucesso do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, imperdível livro de Leandro Narloch.
Ele "joga tomates" na historiografia oficial e contesta o mito do índio como homem puro, vivendo em harmonia com a natureza, ideia comum na cabeça das pessoas, das crianças principalmente.
Nas comemorações do Dia do Índio, a melhor forma de valorizá-los será tratá-los dentro da sua própria vivência, jamais os estereotipando como sublimes representantes da bondade celestial.
Há índios perversos, como perversos são aqueles que não os toleram.
Apostar na diversidade étnica e cultural mistura respeito com realismo.
As famílias indígenas carecem ter oportunidades, educação, vida saudável, cuidados do Estado.
Nada que ver com a tutela que os trata como se incapazes fossem.
Índio é gente, ser humano, não bicho estranho.
Íntegra AQUI.
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