Governo Dilma se divide sobre “o que não fazer” com o câmbio; o que fazer, até agora, ninguém sabe
Por Reinaldo Azevedo
A Folha de hoje informa, em reportagem de Valdo Cruz e Sheila D’Amorim, que Luciano Coutinho, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), desceu a língua na estratégia empregada pelo Ministério da Fazenda para lidar com a valorização do real.
Tratava-se de uma reunião fechada com um grupo de empresários ligados à CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Coutinho sugeriu que o Ministério da Fazenda, cujo titular é Guido Mantega, precisa de um dólar fraco para conter a inflação — que já atingiu a banda superior da meta no acumulado de 12 meses.
Ou por outra: com um dólar mais valorizado, a inflação dispararia.
O real, hoje, está mais forte do que às vésperas da maxidesvalorização de 1999.
Coutinho não economizou: “A indústria está sendo destruída”.
Coutinho não nasceu ontem e tinha claro que as declarações sairiam da sala.
O governo, como se nota, está dividido.
Só que há uma particularidade: pelo visto, os grupos divergem mais sobre “o que não fazer” do que sobre “o que fazer”, já que parece que ninguém tem a menor idéia.
Que Guido Mantega está perdidão, não resta muita dúvida.
Por enquanto, ele decidiu aumentar o IOF para empréstimos contraídos no exterior — o que só foi bom para arrecadação — e para o crédito interno, o que, dizem especialistas, não chegará a fazer cócegas na contenção do consumo.
O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros tem uma boa imagem para a situação: os petistas sabiam usar o software herdado de FHC para uma situação da economia: de escassez de dólares.
Só que o país — e o mundo emergente — vive uma outra realidade: a de abundância.
E, para isso, os “petês” não conseguiram ainda encontrar uma resposta.
Por enquanto, quanto mais Guido esperneia, mais se enrola na teia: o dólar não só não levanta como cai.
Se coisas como essa prosperam ou restam sem qualquer admoestação da chefia, começa a se espalhar a incerteza.
Como diria Paulo, o da Bíblia, é preciso saber que diabo de instrumento toca o governo.
No primeiro ano do primeiro mandato de Lula, as divergências internas também eram grandes, mas havia mais visibilidade.
Palocci ganhou a parada e preferiu não mudar nada.
Acertou.
Hoje, há muito menos certezas.
Até o FMI fala em controle de capitais.
Sendo assim, imaginem Guido: ele fala qualquer coisa.
Nessas horas, em países, assim, convencionais, vozes costumam vir da oposição; do debate, há a possibilidade de surgir alguma luz.
Por aqui… No aguardado pronunciamento que fez no Senado, Aécio Neves (PSDB-MG), saudado pelo próprio governismo como o oposicionista ideal, preferiu deixar o câmbio de lado e falar sobre urgências como o Fundo de Participação dos Municípios…
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