A troca do presidente da Vale informa que o governo brasileiro acabou de inventar a demissão por excesso de competência
Por Augusto Nunes
Ao se intrometer na vida da Vale, o governo federal produziu simultaneamente três assombros: inventou a demissão por excesso de competência, transformou Roger Agnelli no único executivo da história que perdeu emprego por ter feito tudo certo e criou a primeira empresa privada do Brasil cuja diretoria é escolhida pelo Palácio do Planalto e decidiu nesta segunda-feira que o novo comandante será o ex-diretor Murilo Ferreira.
Não é pouca coisa.
E não é tudo.
Bastou a notícia de que o governo resolvera ditar os rumos da Vale para que mais de 4 milhões de investidores começassem a perder dinheiro.
Só em março, as aplicações sofreram uma queda de 6,81%.
“As ações deveriam estar voando”, disse em entrevista ao jornal O Globo o especialista em investimentos Bruno Lembi.
“Os preços do minério estão lá em cima e a Vale divulgou um balanço excepcional”.
Privatizada em maio de 1997, a Vale começou a colecionar cifras superlativas a partir de julho de 2001, quando Agnelli assumiu a presidência para transformá-la, em 10 anos, na segunda mineradora do planeta e na maior produtora mundial de minério de ferro.
Em 1997, tinha 11 mil funcionários. Hoje são 174 mil.
A extração de minério subiu de 114 milhões de toneladas para 297 milhões de toneladas, e o lucro saltou de R$ 390 milhões para R$ 30,7 bilhões.
Os investimentos somaram R$ 19,4 bilhões em 2010.
Deverão chegar a US$ 24 bilhões em 2011.
Em paragens civilizadas, tal performance faria qualquer chefe de governo disputar Agnelli a socos e pontapés com a iniciativa privada: como não instalar num ministério da área econômica alguém tão singularmente eficaz?
No Brasil, como ensinou Tom Jobim, sucesso é ofensa pessoal.
E a independência é o oitavo pecado capital aos olhos de governantes autoritários como Lula.
Enciumado com o executivo brilhante, indignado com o homem de empresa que ignorava determinações do presidente da República, Lula ficou à espera do pretexto para o início da ofensiva.
A chance chegou em dezembro de 2008, quando a Vale incluiu a demissão de 1.300 funcionários entre as medidas adotadas para abrandar os efeitos da crise econômica internacional.
De lá para cá, a abertura de 35 mil novos empregos compensou amplamente o corte, mas Lula continuou a tratar a demonstração de autonomia como traição à pátria.
Na Era da Mediocridade, Obina joga na Seleção e tira Pelé do time.
A multidão de ministros e figurões do segundo escalão comprova que, há quase 100 dias, a presidente da República é uma ilha de despreparo cercada por todos os lados de incompetentes, cretinos, vigaristas, ineptos e gatunos.
O Brasil decente sairia ganhando se todas essas nulidades fossem despejadas dos gabinetes que ocupam.
Em vez disso, Dilma preferiu ultrapassar as fronteiras do Planalto para castigar a Vale com a demissão de um dos mais talentosos executivos do mundo.
O País do Carnaval tem o governo que merece.
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