Por Milleo Wood
Em O Jornaleco
Em Brasília, Lula não fez negociação.
Seu gesto foi de rendição ao PMDB. Entrou falando e saiu quieto, sem nenhum resultado prático.
Ao contrário, acumulou um rosário de derrotas, digno de quem caiu em armadilha preparada para apanha-lo em seu ego inflado.
Muitos recordam a época do Mensalão e criticam a oposição por não ter tirado o Lula do poder diante de tantas evidências de corrupção.
Alguns vão mais longe, acusando a oposição de fraca, omissa e até conivente.
A política brasileira talvez seja uma das mais experientes do mundo, quando se trata de manter a oligarquia que tira proveito do Estado e só não agiu contra Lula naquele momento, não porque lhe faltava argumentos, mas porque não lhe convinha.
Tirando Lula, corria o risco de criar uma espécie de mártir das camadas populares, embaladas pelos protestos da ‘esquerda intelectualizada’.
Como se isso não bastasse, com Lula no poder, essa oligarquia, que adora copiar exemplos ‘democráticos’ do mundo, estaria repetindo aqui o mesmo que aconteceu na Polônia, com um metalúrgico chegando ao poder (Lech Walessa).
E Lula foi preparado para isso, desde seu tempo de sindicalista, e o mais certo era deixa-lo no cargo.
A massa popular desconhece o Lula político e a única referência são seus discursos inflamados sobre palanques, onde fala o idioma dos ouvintes e isso é o que importa, mesmo que a maioria daquilo que promete jamais se torne realidade.
Sobre política, seus conhecimentos são mínimos e essa oligarquia, na qual o expoente é José Sarney, sabe muito bem disso.
Aliás, não só a oligarquia, mas o próprio Lula.
Porém, deslumbrado com o poder e inflado pela mídia e por pesquisas de popularidade, o ex-presidente começou a acreditar que era mesmo o ‘bicho-da-goiaba’ e deu sinais suficientes que pretendia se desgarrar daqueles que o colocaram e o mantiveram no poder.
E a luz vermelha acendeu.
Estava na hora de mostrar que Lula tem poder, mas não muito.
E o plano B entrou em ação.
A bomba bateu no solo com o caso Palocci, mas o objetivo do petardo não era o chefe da Casa Civil, peixe-pequeno, um simples ‘mala-preta’.
O alvo era outro, centrado em Dilma e Lula, e não seria o poder da explosão, mas as ondas de choque que afetariam os dois e o governo como um todo, como vem acontecendo.
Se a primeira onda pegou a Dilma, a paralisando, a segunda pegou Lula, funcionando como uma armadilha, na qual o grande ‘estrategista’ caiu como um patinho.
Quem lançou a bomba sabia que Lula, do alto de seu enorme ego, sairia em defesa do governo e foi exatamente isso que fez, ao ir a Brasília se reunir com a cúpula do PMDB para negociar uma saída honrosa para o caso Palocci.
Mas não houve nenhuma negociação e nem Lula foi a Brasília como o senhor da verdade.
O que houve foi rendição ao PMDB.
Humilhado, precisou se deslocar duas vezes até a casa do senador José Sarney, tentando convencer o PMDB a não participar da CPI do Palocci.
Claro que foi atendido, mas a que preço?
Essa fatura será quitada e o tempo mostrará seu valor, que não é pouco.
Outro ponto negativo ao Lula foi o depoimento público da Dilma, em defesa de Palocci, que muitos acreditam ser resultado de sua negociação, o que não corresponde a verdade.
Se a Dilma saiu em defesa de Palocci, isso se deve ao deputado Fernando Francischini, do PSDB do Paraná, que descobriu ligações entre as transações imobiliárias de Palocci com a campanha da Dilma.
Um assunto que ainda promete se estender com resultados imprevisíveis e comprometedores ao governo.
Entretanto, a maior derrota política de Lula foi ter enfraquecido o governo Dilma, ao se mostrar como o ‘salvador da pátria’, quando não foi.
Erro político que o fez surgir com dotes autoritários, falando asneira e com gente acreditando, como o caso de Vacarezza, que ameaçou o Congresso certamente porque ouviu bobagem do seu chefe, que também não conseguiu segurar a derrota na votação do Código Florestal.
Externamente, ‘o cara’ decepcionou as democracias ocidentais e, internamente, nem mesmo seus admiradores apoiaram a intromissão.
Resumindo, se Lula tivesse ficado em São Bernardo teria sido mais útil, mas quem largou a bomba sabia que ele não agüentaria ficar quieto.
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