Por Augusto Nunes.
A segunda semana de maio começou com a última do companheiro José Dirceu: em 2009, depois de contratar os serviços da J. D. Assessoria e Consultoria, a empreiteira Delta transformou-se numa das favoritas do reino e faturou R$ 733 milhões ─ o dobro do ano anterior ─ com encomendas de obras públicas.
Ainda não se sabe quanto o ex-chefe da Casa Civil lucrou com os palpites que deu.
A terceira semana de maio começou com a última do companheiro Antonio Palocci: entre 2006 e 2010, o deputado federal do PT exerceu com tamanha competência o ofício de consultor que multiplicou por 20 o patrimônio pessoal.
Ainda não se sabe quanto lucraram os clientes com os palpites que ouviram do atual chefe da Casa Civil.
"O ministro Palocci declarou os seus ganhos à Receita Federal”, disse nesta segunda-feira o presidente do PT, Rui Falcão.
“É um assunto encerrado”.
Encerrado coisa nenhuma: da mesma forma que a última do Dirceu, a última do Palocci mal começou.
O ex-ministro precisa explicar o milagre da multiplicação do patrimônio de um cliente.
O ainda ministro precisa explicar o milagre da multiplicação do próprio patrimônio.
E ambos precisam contar o que fazem exatamente para ganhar tanto dinheiro em tão pouco tempo.
Que tipo de serviço prestam os dois consultores?
Quanto cobram dos interessados?
Quem são os clientes?
Como tem sido a evolução patrimonial da freguesia?
Sobretudo, que espécie de informação fornecem o ex-capitão do time de Lula e o homem mais poderoso do governo Dilma Rousseff?
Afastados do Planalto por envolvimento em escândalos de bom tamanho, eles sempre mantiveram desimpedidos os atalhos que levam a informações privilegiadas de grosso calibre.
Usá-las para ganhar dinheiro é uma agressão à ética.
Dependendo do conteúdo, é crime.
A volta da dupla ao noticiário político-policial acabou ofuscando outros espantos que fizeram da primeira quinzena de maio um dos atos mais delirantes da interminável Ópera dos Malandros.
A procissão de assombros começou com o andor do Conselho de Ética do Senado, atulhado de pais-da-pátria cujos prontuários lhes permitem falar de igual para igual com qualquer figurão do PCC.
Até a aparição de Palocci com dinheiro caindo dos bolsos, a passagem dos destaques não cessou.
Descobriu-se que a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, cobrava diárias para descansar aos sábados e domingos em sua casa no Rio.
Para festejar a volta ao PT do meliante Delúbio Soares, 200 candidatos à cadeia reuniram-se num churrasco no interior de Goiás.
O ministro Nelson Jobim pendurou a Medalha do Patriota, reservada a quem presta relevantes serviços ao Exército, no peito de José Genoíno, ex-guerrilheiro e mensaleiro juramentado à espera de julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Com o aval do Congresso, o governo triplicou o preço da energia paga ao Paraguai.
No momento, tenta aprovar a Medida Provisória que entrega às empreiteiras a fixação do custo das obras vinculadas à Copa do Mundo.
A Comissão de Anistia indenizou com R$ 1,5 milhão o companheiro Rui Falcão, para compensá-lo por perseguições políticas que não o impediram de subir na vida.
A presidente Dilma Rousseff decidiu que só são miseráveis os brasileiros que ganham menos de R$ 70 por mês.
A inflação ultrapassou o texto de 6,5%.
O chanceler Antonio Patriota comunicou ao Ministério Público Federal que não vai devolver os passaportes diplomáticos concedidos, “no interesse do país”, a quatro filhos e três netos do ex-presidente Lula.
O Ministério da Educação chancelou um livro didático que ensina aos alunos do curso fundamental que falar errado está certo.
Tudo isso aconteceu em 15 dias.
Fora o caso Dirceu.
Fora a constatação de que Palocci não se emenda.
Nunca pareceu tão fácil opor-se a um governo.
Nunca pareceu tão difícil encontrar políticos dispostos a fazer oposição.
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