Jornal alerta para problemas enfrentados por bancos pequenos desde o escândalo com o PanAmericano, no ano passado
O aumento do crédito concedido pelos bancos brasileiros vem criando uma "fachada de prosperidade que frequentemente esconde problemas mais profundos", segundo afirma reportagem publicada nesta quarta-feira pelo diário econômico britânico Financial Times.
O jornal cita o sucesso verificado nos últimos tempos pelos grandes bancos brasileiros, como Itaú-Unibanco, Banco do Brasil e Bradesco, mas chama a atenção para o fato de que "apenas no último mês, dois pequenos bancos no Brasil tiveram que ser salvos pelo governo, e analistas preveem que mais alguns enfrentarão graves dificuldades até o fim do ano".
"As recentes medidas do Brasil para conter o crescimento do crédito, como o aumento das taxas de juros e dos requerimentos de reservas dos bancos, aumentou o custo dos financiamentos e atingiu os pequenos bancos de forma mais dura.
Normas internacionais mais estritas sob a regulamentação do (acordo internacional) Basileia 3 também aumentaram a pressão", observa o jornal.
A reportagem comenta, porém, que "o ponto de inflexão" foi a crise de confiança sobre o nascente mercado de securitização (transformação de dívida em títulos para venda a investidores) do país, atingido pelo escândalo do Banco PanAmericano, no final do ano passado.
O Banco Central verificou que os balanços do PanAmericano continham dívidas que já haviam sido vendidas e que o banco havia vendido algumas dívidas mais de uma vez.
"Como resultado, os bancos maiores desde então estão mais relutantes em comprar títulos de dívida de bancos menores por temor de que eles estejam fazendo o mesmo (que o PanAmericano), retirando dessas instituições sua fonte mais vital de financiamento", diz o texto.
Ouvido pelo jornal, o diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, Nicolás Eyzaguirre, diz que a economia brasileira ainda não está superaquecida, mas adverte que se houver uma queda nos preços das commodities internacionais aos níveis de 2005, o déficit em conta corrente brasileiro poderia mais do que dobrar, a 5% do PIB, deixando o país vulnerável.
O texto comenta ainda que um aumento nas taxas de juros nos Estados Unidos também poderia estancar o fluxo de divisas ao Brasil.
"Eyzaguirre compara a situação do Brasil a um carro que está se aproximando ao sinal vermelho um pouco rápido demais.
O motorista precisa começar a frear agora ou corre o risco de derrapar mais para a frente", diz o texto.
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