Pivô da queda do então ministro da Fazenda, ele diz que filhos são seu patrimônio; depois de ter sigilo bancário violado, único bem é um lote no Piauí
Assim que pisou em casa, na quente manhã desta quinta-feira, Francenildo dos Santos Costa, de 28 anos, correu para pegar no colo a pequena Amanda, 3 meses. “Meu patrimônio são meus filhos, eles são a minha riqueza”, diz, semblante de felicidade, referindo-se, também ao mais velho, Thiago, de 11 anos.
Fora a chegada da caçula, pouca coisa mudou desde que o então caseiro teve o sigilo bancário quebrado ilegalmente, em 2006.
O episódio derrubou Antonio Palocci do Ministério da Fazenda, no governo Lula.
Enquanto Palocci multiplicou por 20 seu patrimônio em quatro anos, o piauiense diz ter como único bem - além dos filhos - um lote na cidade de Nazário, a 25 quilômetros de Teresina, onde nasceu.
O terreno, comprado por 2.500 reais, hoje vale cerca de 8.000.
Cinco anos depois, Francenildo continua morando de aluguel em São Sebastião, a cerca de 30 quilômetros do Congresso Nacional.
Caseiro não é há tempos.
Vive de bicos como jardineiro e ganha pouco mais de 1.000 reais por mês.
Diz que parou de pagar 60 reais por mês ao INSS para comprar fraldas.
“Por que ele não explicou de onde veio o dinheiro?
Na minha época eu tive que explicar”, disse ao site de VEJA, indagado sobre o que achava do salto patrimonial do ministro da Casa Civil.
Francenildo refere-se ao dia 17 de março de 2006, quando teve sua conta na Caixa Econômica Federal (CEF) violada um dia depois de ter dito, em depoimento à CPI dos Bingos, que vira Palocci na casa no Lago Sul, área nobre de Brasília, frequentada por lobistas da chamada "república de Ribeirão".
À imprensa, teve de dar explicações sobre os 38.860 reais que recebera.
A suspeita é que seria dinheiro dado a ele para falar mal do então ministro da Fazenda, um dos mais influentes da Esplanada dos Ministérios.
Mas o que todo o país soube naquele dia é que Francenildo é filho bastardo do empresário Eurípedes Soares.
E que, recusando-se a registrá-lo como filho, acertou com ele a entrega de 30.000.
Uma espécie de prêmio de consolação.
“Eu fiquei arrasado”, diz.
Para ele, Palocci também deveria dizer o que fez para passar dos 375.000 declarados em 2006 para os 7 milhões em 2010, enquanto exerceu o mandato de deputado federal.
“O cara que não dá explicação de onde veio o dinheiro é porque o dinheiro é suspeito”, afirma.
“Será que o Coaf vai agir tão rápido dessa vez?”, indaga, em alusão ao pedido da oposição para que os ganhos do petista sejam investigados.
Em sua defesa, o ministro da Casa Civil afirma que o aumento de patrimônio deve-se às atividades de sua consultoria – o que, isoladamente, de acordo com o procurador- geral da República, Roberto Gurgel, pode até configurar desvio ético, mas não é crime.
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