Por Xico Graziano
O presidente Lula tenta deformar a história.
Insiste em afirmar que o Brasil foi descoberto em 2003.
Seu proselitismo é equivocado, egocêntrico, imoral e injusto.
Muita luta e trabalho coletivo, pessoas importantes ou gente comum, ajudaram a erigir o país.
Lula venceu as eleições em 2002 e, inebriado pelo poder, desatou a esconder do povo certas verdades que o incomodam.
Sua maior birra recai sobre Fernando Henrique Cardoso, a quem trata como vilão da história.
Jamais Lula reconheceu que o sucesso de seu governo se embasa nas políticas estruturantes comandadas por FHC.
Atacou, de cara, o que denominou de "herança maldita".
Mal assumiu o governo, porém, passou a "pentear" os programas existentes, mudando-lhes o nome.
Trocou o Luz do Campo pelo Luz para Todos, iluminando a roça e escurecendo a verdade.
Juntou o Bolsa Alimentação e o Bolsa Escola no Bolsa Família, expandindo-o.
Ele, que havia um dia chamado os programas de transferência de renda de "esmola de pobre", mudara de opinião.
Que bom.
Manteve o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), mas desatou maldosamente a instigar pequenos agricultores contra grandes fazendeiros, instaurando a cizânia sob a qual reina desde os tempos de São Bernardo do Campo -um afago aqui, um boné ali.
Sua candidata acaba de receber o apoio de usineiros.
Mas o discurso oficial diz que José Serra não gosta da agricultura familiar.
História mal contada.
Os filósofos da ciência há muito questionam a relação entre história e verdade.
Será possível a objetividade na ciência histórica?
A resposta continua complexa.
Nós sabemos que a história se escreve pelas mãos daqueles que a dominam.
As guerras territoriais sempre enalteceram os conquistadores.
No faroeste norte americano, os índios viraram bandidos.
A permanecer, que história o lulismo contará nos livros escolares?
Dirá que o PT se opôs às medidas saneadoras da economia, a começar do Plano Real?
Haverá coragem para assumir que lutaram contra a Lei de Responsabilidade Fiscal?
Que privatizaram as florestas da Amazônia?
Ou esconderá isso?
Duas forças atuam nesse processo que constrói a história recente.
De um lado, a maior transparência adquirida com o avanço da mídia.
Antes, nem opinião pública havia, e fácil era deturpar o ocorrido.
Na cortina de ferro, Stálin destruiu Trotsky, transformando-o de herói em traidor da revolução soviética.
O povo, por bom tempo, acreditou.
Com estrondosa aprovação, Lula debocha de seus críticos, destrói o argumento, vulgariza o debate nacional.
Temo, sinceramente, pelo resultado desse processo de formação da nossa consciência coletiva.
Obstinado em eleger sua candidata, Lula enfrenta a oposição ridicularizando os adversários e fazendo-se dono da história.
Mostra generosidade com aliados que antes chamava de canalhas, mas despreza o grande sociólogo com quem panfletou em porta de fábrica.
Lula renega seu passado para não dar a mão à palmatória para FHC.
Ingratidão.
Sua candidata vai além.
Aprendiz da política ilusória, transformou a campanha eleitoral em festival de mentiras: alguém acredita mesmo que Serra quer acabar com o Bolsa Família?
Privatizar a Petrobras?
Vender o Banco do Brasil?
O Estado policialesco que se descortina permite temer o livro do futuro.
O engodo ameaça prevalecer.
Até, tomara, ser desmascarado.
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